Brasil: forte inquietação após o assassinato de dois jornalistas

Graves violações à liberdade de imprensa foram observadas nas últimas semanas no Brasil. A Repórteres sem Fronteiras (RSF) lamenta o ambiente de trabalho extremamente tenso e pede às autoridades que garantam a proteção dos jornalistas e punam os responsáveis por esses ataques em todo o país.

Nas duas últimas semanas, em que vários meios de comunicação e repórteres foram alvo de ameaças ou campanhas de intimidação, dois jornalistas foram assassinados em circunstâncias ainda não esclarecidas. 

 

O apresentador de rádio e humorista Weverton Rabelo Fróes, de 32 anos, conhecido como Toninho Locutor, foi executado no dia 4 de abril, na cidade de Planaltino, na Bahia. Fundador e proprietário de uma rádio amadora local, ele apresentava um programa humorístico para a Rádio Antena 1. Foi assassinado a sangue frio na porta de casa por um homem armado que parou em uma motocicleta e abriu fogo, fugindo em seguida.  

 

Poucos dias depois, em 9 de abril, também na Bahia, o produtor de televisão José Bonfim Pitangueiras também foi executado, em Salvador, por indivíduos armados que o abordaram e o crivaram de balas antes de desaparecer. O jornalista, de 43 anos, era produtor da TV Record, um dos principais canais de televisão do país. Segundo informações de pessoas próximas, Pitangueiras não havia mencionado ameaças recentes relacionadas ao seu trabalho.

 

“Toda luz deve ser lançada sobre esses assassinatos. As autoridades locais e federais devem identificar e levar à justiça os responsáveis por esses crimes, fazendo todo o possível para garantir a proteção dos jornalistas”, declarou o diretor do escritório da RSF para a América Latina, Emmanuel Colombié, que também está preocupado com “os inúmeros ataques à liberdade de imprensa registrados recentemente e o ambiente deletério em que trabalham atualmente os jornalistas brasileiros”.

 

Vários incidentes graves recentes envolveram sobretudo jornalistas que questionaram a gestão da crise sanitária no país. Em 6 de abril, a sede da Rádio Comunidade, emissora comunitária local em Santa Cruz do Capibaribe, pequeno município do estado de Pernambuco, foi invadida por quatro pessoas. Após entrar à força, elas ameaçaram os jornalistas presentes no local, especialmente o apresentador Júnior Albuquerque. Os agressores, que se apresentaram como apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, não teriam gostado das declarações e críticas do jornalista à forma como o governo federal está lidando com a pandemia do coronavírus. O repórter registrou queixa na polícia local.

 

No mês passado, em 17 de março, foi a redação do jornal Folha da Região, localizada em Olímpia, município do norte do estado de São Paulo, que foi incendiada. Poucos dias depois, um militar e bombeiro da cidade confessou ter ateado fogo voluntariamente no jornal e agido “em revolta contra a imprensa”, que, segundo ele, "não ajudaria na luta contra a situação de crise sanitária”. A polícia local, por sua vez, afirmou que o ato foi “uma resposta ao posicionamento do jornal a favor de medidas científicas e legais para combater a pandemia do coronavírus”.

 

Investigar a corrupção também continua sendo uma atividade perigosa no Brasil. Em Boa Vista, no estado de Roraima, o jornalista Diego Santos, apresentador do programa Verdade no Ar, do canal de televisão Norte Boa Vista, afiliado ao grupo de imprensa SBT, recebeu uma ameaça por correio, no dia 1º de abril: um envelope contendo duas balas calibre 380,  acompanhadas da mensagem “Para Diego Santos”.  Em seu programa, o jornalista regularmente denuncia a corrupção da classe política brasileira e atividades de facções criminosas que atuam no estado de Roraima. Para Diego Santos, não há dúvida de que tais ameaças de morte estão relacionadas ao seu trabalho. A polícia, contudo, ainda não priorizou nenhuma pista.


O Brasil ocupa o 107o lugar entre 180 países no Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa elaborado pela RSF.

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Updated on 15.04.2021