Desde a invasão russa da Ucrânia, em fevereiro de 2022, quase todos os meios de comunicação independentes foram banidos, bloqueados e/ou declarados “agentes estrangeiros”. Todos os outros estão sujeitos à censura militar.
Cenário midiático
Todos os canais de televisão independentes privados estão banidos do ar, com exceção dos canais de entretenimento a cabo. A versão russa do canal Euronews foi suspensa em 22 de março de 2022 pelo regulador de mídia Roskomnadzor. Entre os principais títulos da imprensa escrita, que há alguns anos pertencem a pessoas próximas ao Kremlin, aqueles que preservaram sua independência e estavam sob constante ameaça de fechamento, como o jornal independente tri-semanal Novaya Gazeta, tiveram que suspender suas publicações. A situação é a mesma para o rádio. A mídia restante é forçada a uma autocensura muito rígida devido a temas e palavras proibidos, e as redes sociais ocidentais estão sendo gradualmente bloqueadas.
Contexto político
Desde o início da pandemia, o presidente Vladimir Putin parece cada vez mais isolado do mundo exterior. Apenas um círculo muito restrito agora tem acesso à sua pessoa, e as últimas instituições colegiais decisórias, como o Conselho de Segurança, não são mais realmente colegiais. O Parlamento tornou-se definitivamente a câmara de registo das decisões tomadas pelo Kremlin. O discurso oficial, imediatamente tomado pela propaganda política onipresente, baseia-se principalmente em relatos de "queixas históricas" russas e teorias da conspiração.
Quadro jurídico
Nenhum jornalista está imune a processos judiciais potencialmente graves baseados em leis repressivas de formulação vaga, muitas vezes aprovadas às pressas. Muitas leis relativas à liberdade de expressão aprovadas nos últimos anos foram alteradas para entrar no código penal no início da pandemia de Covid-19, como a difamação ou a divulgação de “informações falsas”. A guerra na Ucrânia deu a elas um novo ímpeto: o Parlamento adotou apressadamente emendas punindo com penas de prisão "informações falsas" sobre o exército russo e qualquer outra agência estatal russa que operasse no exterior. A pena máxima incorrida pode chegar a 15 anos de prisão em regime fechado.
Contexto económico
A invasão russa da Ucrânia e as pesadas sanções impostas em resposta pelas democracias ocidentais levaram a uma ruptura repentina da economia russa com as economias europeias, às quais estava intimamente ligada, o que ameaça causar uma crise tão longa quanto profunda. Além da censura, que obrigou muitos títulos a fechar e de fato empobreceu os últimos jornalistas independentes forçados a mudar de atividade ou ao exílio, a imprensa regional será uma das primeiras vítimas desta crise econômica.
Contexto sociocultural
Embora a taxa de conexão à internet seja muito alta no país, quase dois terços dos russos recebem suas notícias principalmente pela televisão, submetida ao governo, além de redes sociais nacionais como VKontakte. Assuntos como homossexualidade ou sentimentos religiosos tornaram-se gradualmente tabu na mídia sob a presidência de Vladimir Putin, que incentivou um certo conservadorismo na sociedade russa.
Segurança
Nos últimos anos, além das pesadas condenações e até torturas sofridas por alguns jornalistas, principalmente no interior, o uso frequente de multas e detenções de curta duração sob diversos pretextos foi adicionado ao arsenal de intimidação sistemática contra eles. Os meios de comunicação também estão sob a ameaça de serem incluídos arbitrariamente na lista de “agentes estrangeiros”, um status que representa pesados obstáculos administrativos e riscos legais. Diante dos riscos adicionais incorridos desde o início da guerra na Ucrânia, muitos jornalistas dos meios de comunicação independentes optaram pelo exílio.