Brasil: diversos meios de comunicação suspendem cobertura de imprensa na entrada do Palácio da Alvorada por questões de segurança

Considerando as condições de segurança insuficientes para a proteção de seus jornalistas, diversos meios de comunicação decidiram, na terça-feira, 26 de maio, suspender temporariamente a cobertura da agenda presidencial na frente do Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência da República. A Repórteres sem Fronteiras (RSF) denuncia a escalada de ataques contra a imprensa e insta as autoridades a intensificar as medidas de proteção no local para garantir o trabalho dos jornalistas.

Na terça-feira, 26 de maio, o grupo Globo (que inclui a TV Globo, os jornais O Globo e Valor Econômico e o site de notícias G1), o grupo Bandeirantes, o jornal Folha de São Paulo - principal jornal do país - e o site de notícias Metropoles tornaram pública sua decisão de não participar mais da cobertura de imprensa da agenda presidencial na frente do Palácio da Alvorada, em Brasília. Embora não o tenha anunciado oficialmente, o jornal O Estado de S. Paulo também decidiu não enviar mais repórteres ao local. Esses veículos de comunicação se juntam ao jornal Correio Braziliense, que já havia tomado a mesma decisão no início de maio.


O fato inédito ocorre após um novo episódio de violência e agressões verbais protagonizado por parte dos apoiadores de Jair Bolsonaro, igualmente presentes diante do Alvorada nas aparições públicas do presidente, e que são separados da imprensa por uma grade. Os meios de comunicação justificaram a suspensão temporária pela falta de condições de segurança para os seus repórteres no local. Os apoiadores de Bolsonaro criaram o hábito de insultar e ameaçar os jornalistas que compareciam para registrar as declarações do chefe de Estado, que ora encorajava, ora observava divertido os ataques e intimidações.


Na segunda-feira, 25 de maio de 2020, a violência atingiu um novo patamar quando 60 militantes extremamente agressivos e virulentos, postaram-se logo atrás da grade de isolamento para insultar aos berros os jornalistas presentes.


No mesmo dia e a poucos metros dali, diante do Ministério da Defesa, onde o presidente fora almoçar, uma parcela desses mesmos militantes se aproximou e tentava cercar os jornalistas, antes de serem dispersados pela polícia militar. No dia seguinte, quarta-feira, 27 de maio, um repórter da CNN Brasil foi abordado e insultado diante do palácio presidencial por um militante particularmente agressivo.


"É inadmissível e vergonhoso que uma instituição pública, símbolo da república, tenha se tornado o palco de ataques abjetos e sistemáticos aos jornalistas por parte do presidente Bolsonaro e de seus apoiadores, declarou Emmanuel Colombié, diretor do escritório da RSF para a América Latina. As autoridades devem garantir as condições de segurança necessárias para que toda a imprensa possa participar desses encontros com o chefe do Estado. Além disso, a RSF expressa sua solidariedade com os jornalistas brasileiros cuja atividade, nesse período de pandemia e num ambiente de trabalho cada vez mais hostil, é mais vital do que nunca.


Após o anúncio de suspensão, o presidente Bolsonaro declarou que a mídia estava tentando "se vitimizar”. Desde o início da crise sanitária do Covid-19, que fez do Brasil o país da América Latina mais afetado pela pandemia e seu atual epicentro global, o presidente Bolsonaro persiste na negação e prefere atacar os meios de comunicação, como mostra a primeira parte de uma série de publicações trimestrais em que a RSF decifra a estratégia adotada pelo presidente Bolsonaro para desmoralizar a imprensa. 
 
O Brasil ocupa o 107o lugar de 180 no Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa de 2020, estabelecido pela RSF.

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Mise à jour le 28.05.2020