Estados Unidos: violência inédita explode contra jornalistas cobrindo manifestações, alimentada por anos de demonização dos meios de comunicação por Trump

Protestos em ao menos 30 cidades dos Estados Unidos, após o assassinato de George Floyd pela polícia, resultaram em violentos ataques da polícia contra manifestantes e jornalistas. Dezenas de incidentes foram reportados até o momento, variando de ameaças até graves agressões físicas. A Repórteres sem Fronteiras (RSF) condena veementemente os ataques e faz um apelo para que medidas imediatas de proteção aos jornalistas sejam tomadas.

Após a prisão televisionada ao vivo de uma equipe da CNN que cobria as manifestações em Mineápolis, no dia 29 de maio, aumentaram as tensões contra os meios de comunicação cobrindo protestos que aconteceram em cerca de 30 cidades americanas, estendendo-se até o dia 31 de maio. Os protestos foram motivados pelo assassinato de um homem negro, George Floyd, por policiais de Mineápolis, quando o prendiam no dia 25 de maio.

 

Até o momento, pelo menos 68 incidentes foram registrados, envolvendo ataques da polícia e de manifestantes contra jornalistas que cobriam as manifestações. Os jornalistas foram alvo de tiros de bala de borracha, expostos a gás lacrimogêneo e spray de pimenta, espancados, ameaçados e intimidados e tiveram carros destruídos.

 

"Os anos de demonização dos meios de comunicação pelo presidente Trump estão agora rendendo seus frutos, com a polícia e os manifestantes visando com violência e prisões jornalistas claramente identificados como tais," declarou Christophe Deloire, secretário geral da RSF.  "Há muito tempo ficou óbvio que essa demonização tomaria a forma da violência física. A RSF alertou para as consequências dessa hostilidade aberta contra os meios de comunicação e estamos agora testemunhando uma onda inédita de violência contra jornalistas nos EUA. A RSF apela a todas as autoridades americanas para que garantam a total proteção dos jornalistas e honrem os princípios fundadores do país, respeitando a liberdade de imprensa", acrescentou Deloire. 

 

Entre os ataques mais graves estão:

 

·       Em Mineápolis, Linda Tirado ficou permanentemente cega de um olho após ter sido alvejada pelo que ela acredita ser uma bala de borracha disparada por policiais quando ela fotografava os protestos.

·       Em Pittsburgh, Ian Smith - um fotojornalista da KDKA TV - postou no Twitter que havia sido “atacado por manifestantes, no Centro, perto da Arena. Eles me pisotearam e chutaram. Estou coberto de contusões e ensanguentado, mas vivo. Minha câmera foi destruída. Outro grupo de manifestantes me tirou de lá e salvou minha vida."

·       Em Phoenix, a repórter da CBS Briana Whitney foi atacada ao vivo por um manifestante que tentou arrancar o seu microfone. 

·       Em Washington, D.C., o repórter da Fox News Leland Vittert e sua equipe foram socados, atingidos por projéteis e perseguidos por manifestantes que haviam se reunido próximo à Casa Branca. 

 

Também tem havido relatos de prisões e detenções de jornalistas pela polícia. Em Mineápolis, o jornalista americano Tim Arvier, correspondente da rede australiana 9News, foi detido pela polícia sob a mira de uma arma. Em Las Vegas, a fotojornalista freelancer Bridget Bennett foi presa, quando trabalhava para a AFP, por "desobediência à ordem de dispersar", passando a noite na prisão. Ellen Schmidt, a fotojornalista do Las Vegas Review-Journal, também foi presa e mantida em detenção por uma noite, em Las Vegas. 

 

A RSF apela às autoridades americanas para que garantam a segurança dos jornalistas que cobrem os protestos, o que inclui instruir as forças de segurança que os jornalistas não devem ser alvo de disparos ou de medidas de controle de multidões e devem ser protegidos de ataques violentos por parte de manifestantes.

 

Os Estados Unidos ocupam a 45a posição entre 180 países incluídos no Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa da RSF. 



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Updated on 01.06.2020