Brasil: o jornal Folha de São Paulo é alvo de ataques após revelar informações comprometedoras sobre a campanha de Jair Bolsonaro

O jornal Folha de São Paulo, um dos mais importantes jornais do Brasil, vem sendo alvo de ataques após revelar, no dia 18 de outubro, um escândalo implicando o candidato à presidência Jair Bolsonaro. A Repórteres sem Fronteiras denuncia esse entrave à liberdade de informar e repudia o clima odioso para os jornalistas brasileiros desde o início da campanha eleitoral.

Segundo a reportagem publicada no dia 18 de outubro pelo jornal Folha de São Paulo, empresários teriam feito pagamentos ilegais para beneficiar Bolsonaro (PSL), promovendo uma campanha de desinformação, e influenciar o eleitorado brasileiro no quadro das eleições de 2018, via a plataforma WhatsApp. Empresas privadas estariam pagando pelo serviço de disparo em massa de mensagens pelo aplicativo para descredibilizar o seu adversário na disputa eleitoral, Fernando Haddad, candidato do PT. Uma investigação sobre o caso foi aberta pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no dia 19 de outubro.


O WhatsApp que já tinha bloqueado milhares de contas falsas suspeitas de terem propagado informações enganosas durante a campanha, graças a um filtro que identifica spams automaticamente, anunciou a abertura de uma investigação interna sobre o caso. A empresa também declarou estar “tomando medidas legais para impedir que empresas façam envio maciço de mensagens” na plataforma.


O escândalo, batizado nas redes sociais de #Caixa2doBolsonaro teve grande repercussão no país e provocou a ira do candidato e de seus apoiadores: “A Folha de S.Paulo é a maior fake news do Brasil. Vocês não terão mais verba publicitária do governo (...). Imprensa vendida, meus pêsames”, declarou Jair Bolsonaro num vídeo enviado a seus apoiadores durante uma manifestação realizada no domingo 22 de outubro.


A jornalista Patrícia Campos Mello, repórter renomada da Folha de São Paulo que assina a reportagem, foi violentamente atacada, insultada e ameaçada nas redes sociais por apoiadores de Jair Bolsonaro. A jornalista também recebeu ligações anônimas com ameaças contra ela e a sua família. Patrícia Campos Mello teve a sua conta do WhatsApp hackeada e se viu obrigada a bloquear o acesso público da sua conta no Twitter. Contactada pela RSF, a jornalista afirmou ter recebido o apoio de seus colegas e da Folha de São Paulo. E disse ainda que apesar do medo, seguirá trabalhando sobre o tema. 


“Os ataques do candidato Jair Bolsonaro e de seus apoiadores contra o jornal Folha de São Paulo são inaceitáveis e indignos de um partido que pretende governar o país”, declarou Emmanuel Colombié, diretor do Escritório para a América Latina da RSF. “A RSF se solidariza com Patrícia Campos Mello e com o conjunto de jornalistas brasileiros que realizam um trabalho absolutamente fundamental, em particular nesse período conturbado”.


Num comunicado publicado no dia 18 de outubro, a RSF denunciou o clima de ódio e os ataques recorrentes contra jornalistas e fact-checkers observados durante a campanha eleitoral e lembrou os riscos que representa a eleição de Jair Bolsonaro para a democracia e a liberdade de imprensa no Brasil.


Dois episódios recentes ilustram esse ambiente de tensão e extrema dificuldade para cobrir a situação política do país. No dia 20 de outubro, o Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo denunciou as pressões sofridas por diversos jornalistas do grupo de mídia Record, um dos maiores do país, controlados pelo pastor Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, que declarou recentemente seu apoio a Jair Bolsonaro. De acordo com o sindicato, os jornalistas “estão sofrendo pressão permanente da direção da emissora para que o noticiário beneficie o candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) e prejudique Fernando Haddad (PT)”.


Outro grave episódio ocorrido no domingo 21 de outubro foi a apreensão de milhares de exemplares do jornal Brasil de Fato por fiscais do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ), na sede do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro) em Macaé. A edição especial sobre as eleições trazia reportagens sobre as propostas dos candidatos Fernando Haddad e Jair Bolsonaro. De acordo com o juiz que expediu a ordem, o jornal “possui nítido propósito de propaganda eleitoral do candidato (...) Fernando Haddad, ao passo que contém matérias pejorativas ao seu adversário Jair Bolsonaro".


O Brasil se encontra na 102a posição no Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa de 2018, elaborado pela Repórteres sem Fronteiras

Publié le
Mise à jour le 23.10.2018