Avalancha de demandas contra um documentarista francês a fim de censurar seu filme

Oito ações judiciais, entre as quais uma por “crime”, acompanhadas de um pedido de 60.000 euros de indemnização. José Huerta, documentarista francês, rodou em 2008 um filme sobre a expansão turística e seus efeitos perversos numa pequena aldeia do nordeste brasileiro, Parajuru. O julgamento por crime, que deverá começar no dia 5 de Maio, diz respeito, entre outros elementos, a alegadas declarações difamatórias que não aparecem no documentário. Tendo em os argumentos legítimos de José Huerta, solicitamos à justiça do Ceará encarregada desse processo que não ceda a eventuais pressões, nomeadamente económicas, e que não valide um pacto de censura.

Veja o trailer:

Repórteres sem Fronteiras visionou “Uma semana em Parajuru”. Podemos garantir a vontade de objetividade do seu autor, que deu a palavra tanto aos representantes do grupo de promotores austríacos que impulsionou os projetos turísticos em curso em Parajuru como às populações originárias da povoação. No decorrer do seu filme, José Huerta não pretende se opor sistematicamente a toda e qualquer iniciativa de desenvolvimento. Contudo, aponta com razão a falta de concertação entre o grupo austríaco dirigido por Gisele Wisniewski e a comunidade local. Por outro lado, assinala os problemas demográficos e ambientais colocados por este tipo de investimentos, alguns dos quais foram considerados ilegais pelas autoridades federais. Por fim, chama a atenção, sem acusar os promotores intervenientes, para as possíveis derrapagens do turismo de massa.

Leia também o site Internet da campanha de apoio ao filme: http://www.vagalume.fr/campagneparajuru/Accueil.ht...

Embora apareça brevemente numa seqüência do filme, Gisele Wisniewski recusou responder pessoalmente às perguntas de José Huerta. A que se deve esta atitude? Os seus colaboradores mais chegados foram, porém, questionados pelo cineasta. Como prova de boa-fé, José Huerta chegou a organizar uma projeção em Parajuru, em abril de 2009, perante o conjunto dos intervenientes. Segundo o documentarista, foi após esta projeção que uma queixa contra si foi interposta, antes da abertura, em julho de 2009, de oito processos, que lhe foram notificados no passado mês de janeiro.

Nada justifica o mais mínimo ataque judicial contra esta obra, e ainda menos o seu confisco ou censura. A atitude dos promotores talvez se entenda pelo fato de um dos colaboradores de Gisele Wisniewski ter sido apanhado num escândalo financeiro na Áustria em setembro de 2009 (Buwog Affäre). Uma parte do dinheiro desviado terá sido investida em Parajuru.

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Updated on 16.10.2016