Assassinato e abusos policiais: os jornalistas pagam caro sua profissão
Repórteres sem Fronteiras condena o assassinato do diretor do diário Hora H, José Roberto Ornelas de Lemos (foto), no estado do Rio de Janeiro, a 11 de junho de 2013. A organização denuncia igualmente os abusos sofridos, no mesmo dia, por alguns jornalistas em São Paulo, no decorrer da cobertura de uma manifestação contra a subida do preço da passagem de ônibus na cidade.
Três profissionais da mídia foram detidos pela Polícia Militar de São Paulo, durante confrontos entre manifestantes e forças da ordem, na Avenida Paulista. Leandro Machado, do diário Folha de S. Paulo, e o fotógrafo Leandro Morais, do portal Universo Online (UOL), foram detidos por terem “obstruído a ação da polícia”, antes de serem soltos uma hora mais tarde. Tal não sucedeu com Pedro Ribeiro Nogueira, do Portal Aprendiz. Acusado de forma absurda de “formação de quadrilha” e “dano qualificado”, permanece preso.
No âmbito dos protestos de dia 11 de junho, agentes da Polícia Militar também agrediram Fernando Mellis, do portal de notícias R7. Testemunha de atos de violência da polícia sobre um manifestante, o jornalista online levou um golpe de cassetete nas costelas, mesmo depois de ter mostrado sua credencial de imprensa às autoridades.
“Exigimos a libertação imediata de Pedro Ribeiro Nogueira, detido por motivos aberrantes. Abusos policiais desse tipo constituem um sério entrave à liberdade de informação. A mídia desempenha um papel crucial nas manifestações, divulgando as queixas dos participantes, relatando a resposta das autoridades e contribuindo a abrir um debate sobre as reivindicações. Os jornalistas não podem ser assimilados aos manifestantes. Por conseguinte, as forças da ordem devem comprometer-se a respeitar a neutralidade e integridade dos profissionais da informação”, declarou Repórteres sem Fronteiras.
44 balas
Repórteres sem Fronteiras expressa igualmente seu horror na sequência do assassinato de José Roberto Ornelas de Lemos, em Nova Iguaçu (Baixada Fluminense, RJ). O jornalista, de 45 anos, estava numa padaria quando quatro indivíduos num carro dispararam sobre sua pessoa. A vítima recebeu 44 impactos de bala.
De acordo com seu irmão, Luciano, José Roberto Ornelas de Lemos já fora ameaçado por telefone e carros estranhos rondavam por onde ele estava. Para ele, esse assassinato se deve à linha editorial do diário, muito crítico com a polícia e os dirigentes políticos locais.
“Solicitamos à polícia, que já iniciou uma investigação, que esclareça totalmente as motivações desse crime. A pista profissional deve ser tomada em consideração”, declarou Repórteres sem Fronteiras.
José Roberto Ornelas de Lemos é o quarto jornalista morto no Brasil desde janeiro de 2013, em casos provável ou comprovadamente relacionados com sua profissão. O Brasil continua sendo o país mais mortífero do continente americano no que vai de ano.