Birmânia

Após a dissolução, em fevereiro de 2011, da junta no poder por meio século, os jornalistas de Mianmar esperavam não ter mais que temer detenções e prisões quando criticassem o governo ou o exército. E, de fato, na década que se seguiu, muitas reformas permitiram ao país conquistar vinte posições no Ranking da Liberdade de Imprensa da RSF entre 2013 e 2017. O golpe de Estado de 1º de fevereiro de 2021 pôs um fim brutal a esse frágil impulso e representou um retrocesso de dez anos para os jornalistas. Mais uma vez, eles enfrentam campanhas sistemáticas de prisão, devem se dobrar à censura e, para muitos, resignar-se com a clandestinidade para exercer livremente sua profissão e fugir da polícia. O golpe de 2021 foi apenas uma meia surpresa, já que o clima em torno da liberdade de imprensa vinha endurecendo nos últimos três anos. O ataque mais violento aconteceu em 2018 com a prisão de dois repórteres da Reuters que investigavam um massacre de civis da etnia Rohingya. Eles foram finalmente perdoados depois de mais de 500 dias presos, mas sua condenação com base em evidências forjadas e processos criminais falsos serviu como um aviso para todos os jornalistas pensarem duas vezes antes de tentar realizar reportagens investigativas que possam aborrecer o governo civil ou a "Tatmadaw", como são conhecidas as forças armadas. O jornalismo investigativo era, no entanto, promissor, sustentado por veículos como os sites de notícias Myanmar Now, DVB ou Mizzima, pela Mawkun Magazinou ainda pela BBC Burmese. Infelizmente, seus leitores ainda eram muito pouco numerosos e o modelo econômico da imprensa privada, em geral, ainda era eminentemente frágil. Além da arbitrariedade, que usam amplamente, os militares também dispõem de uma ferramenta diabolicamente eficaz para silenciar ou intimidar jornalistas: o artigo 66(d) da Lei de Telecomunicações criminaliza a difamação e pode mandar um jornalista à prisão por três anos por informações contestadas por terceiros.