Violência pós-eleitoral em Moçambique: jornalistas na mira
Desde o início de outubro, Moçambique atravessa um período de turbulências, marcado por manifestações que denunciam a fraude observada durante as eleições gerais de 9 de outubro, não poupando os jornalistas. A Repórteres sem Fronteiras (RSF) denuncia as agressões de que são vítimas e pede pela sua proteção no exercício de suas funções.
Outubro sombrio para os meios de comunicação em Moçambique. Veículos de imprensa apedrejados, jornalistas alvos de gás lacrimogêneo, prisões, cortes de Internet, ameaças online... Os ataques à liberdade de imprensa têm ocorrido um após o outro no país desde o início das tensões, após as eleições gerais de 9 de outubro, e do assassinato de duas pessoas próximas ao candidato da oposição, Venâncio Mondlane.
“Há várias semanas que a situação dos jornalistas em Moçambique se tornou extremamente preocupante. Os repórteres são constantemente alvo da polícia e de ativistas durante os protestos que varrem o país. Em vez de garantirem a proteção dos jornalistas, as autoridades estão encobrindo esses ataques e a terrível repressão das manifestações, cortando o acesso à Internet. Num momento em que Moçambique atravessa um grave período de turbulência, uma imprensa livre e a garantia da segurança dos profissionais dos meios de comunicação são mais cruciais do que nunca. A RSF denuncia os graves ataques e violações do direito à informação e apela às autoridades para que atuem urgentemente para restaurar um clima propício à liberdade de imprensa.”
No dia 21 de outubro, cerca de quinze jornalistas que iriam cobrir um discurso de Venâncio Mondlane, principal opositor e candidato presidencial, foram alvo de disparos de gás lacrimogêneo. Cinco jornalistas feridos tiveram de ser transportados para o hospital central de Maputo, incluindo Bruno Marrengula, cinegrafista da televisão privada TV Glória. Atingido na perna, o repórter fraturou a tíbia. Um jornalista da Rádio Moçambique foi ferido durante uma manifestação organizada no dia 31 de outubro na capital do país, ao atirarem pedras contra seu veículo de serviço.
Agressões físicas e ameaças online
Várias agressões também ocorreram fora da capital. Cinco repórteres dos canais de televisão TV Sucesso e Amaramba, assim como da Rádio Esperança tiveram seus celulares, usados para filmar os confrontos, confiscados por várias horas em Insaca, no norte do país, no dia 26 de outubro. Insatisfeito com as imagens que mostram a polícia disparando contra os manifestantes, o representante local do serviço estatal de informação e segurança lançou ameaças contra eles. Na véspera, Nuno Gemusse Alberto, jornalista da Rádio Comunitária Monte Gilé, foi preso quando saía de seu local de trabalho. Levado ao comando distrital, o jornalista foi espancado nas pernas e só foi liberado horas depois.
Os jornalistas também são alvo de ataques online. Ernesto Martinho, repórter que trabalha para o canal de televisão privado TV Sucesso, foi ameaçado nas redes sociais, principalmente por agentes e funcionários públicos.
O acesso à Internet também foi interrompido em diversas ocasiões desde o anúncio dos resultados da eleição de 24 de outubro. No dia seguinte aos resultados, o governo ordenou o bloqueio da Internet de três empresas de telefonia móvel, Tmcel, Vodacom e Mobitel. Ainda no dia 31 de outubro, as duas últimas empresas citadas tiveram que bloquear o acesso às redes sociais. O serviço de monitoramento de Internet Netblocks continua registrando bloqueios temporários desde o início de novembro.