Prêmio RSF 2021 homenageia a jornalista chinesa Zhang Zhan, a palestina Majdoleen Hassona e o “Projeto Pegasus”

O Prêmio Repórteres sem Fronteiras (RSF) 2021 para a Liberdade de Imprensa foi concedido à jornalista chinesa Zhang Zhan (categoria coragem), ao “Projeto Pegasus” (categoria impacto) e à jornalista palestina Majdoleen Hassona (categoria independência).


O Prêmio RSF “para a liberdade de imprensa” reconhece anualmente o trabalho de um(a) jornalista ou veículo de comunicação que tenha feito uma contribuição significativa para a defesa ou promoção da liberdade de imprensa em todo o mundo. A 29ª edição homenageia três vencedores em três categorias distintas, relacionadas à coragem, ao impacto e à independência dos vencedores. Seis jornalistas e seis veículos de comunicação ou organizações de jornalistas de 11 países foram indicados.


O prêmio da coragem 2021, que tem por objetivo apoiar e saudar jornalistas, veículos de comunicação ou ONGs que tenham demonstrado coragem na prática, defesa ou promoção do jornalismo, foi atribuído à jornalista chinesa Zhang Zhan.


Apesar das constantes ameaças das autoridades, esta advogada que virou jornalista cobriu a epidemia de Covid-19 na cidade de Wuhan em fevereiro de 2020. Ela transmitiu imagens ao vivo de ruas, hospitais e famílias de doentes nas redes sociais. Suas reportagens no coração do primeiro epicentro do coronavírus constituíram uma das principais fontes de informações independentes sobre a situação sanitária na região. Presa em maio, mantida incomunicável e sem justificativa oficial por vários meses, Zhang Zhan  foi condenada em 28 de dezembro de 2020 a quatro anos de prisão por ter, oficialmente, "acirrado brigas e causado inquietação". Para protestar contra esta injustiça e os maus-tratos sofridos, a jornalista fez uma greve de fome que a levou a ser amarrada e alimentada à força por uma sonda. Hoje, seus parentes temem por sua vida. Seu estado de saúde piorou seriamente nas últimas semanas. 





O prêmio de impacto 2021, que tem por objetivo reconhecer os jornalistas, veículos de comunicação ou ONGs que contribuíram com melhorias evidentes em matéria de liberdade jornalística, de independência e de pluralismo, ou com uma conscientização mais profunda dessas questões, foi concedido ao Projeto Pegasus.



O Projeto Pegasus é uma pesquisa publicada por um consórcio internacional de mais de 80 jornalistas de 17 veículos de comunicação* de 11 países diferentes, coordenada pela organização Forbidden Stories, com suporte técnico de especialistas do Laboratório de Segurança da Amnesty International. Com base no vazamento de mais de 50 mil números de telefone, a investigação revelou em particular como cerca de 200 jornalistas foram espionados por regimes autoritários, assim como por países democráticos. O Projeto Pegasus alerta as pessoas sobre a extensão da vigilância a que os jornalistas podem ser submetidos. Isso levou a RSF e muitos veículos de comunicação a registrar queixa e exigir uma moratória sobre essas tecnologias de vigilância.


*(Aristegui Noticias, Daraj, Die Zeit, Direkt 36, Knack, Forbidden Stories, Haaretz, Le Monde, Organized Crime and Corruption Reporting Project, Proceso, PBS Frontline, Radio France, Le Soir, Süddeutsche Zeitung, The Guardian, The Washington Post e The Wire)


O prêmio da independência 2021, que tem por objetivo recompensar jornalistas, veículos de comunicação ou ONGs que resistiram de forma notável às pressões financeiras, políticas, econômicas ou religiosas, foi concedido à jornalista palestina Majdoleen Hassona.



Antes de entrar para o canal turco TRT e de se estabelecer em Istambul, esta jornalista palestina foi regularmente processada e assediada tanto pelas autoridades israelenses quanto pelas palestinas, devido a suas publicações críticas. Em agosto de 2019, quando voltou à Cisjordânia para comemorar o Eid com seu noivo (também jornalista da TRT e radicado na Turquia), ela foi detida em um posto de controle israelense e ficou sabendo que era alvo de uma proibição de deixar o território emitida pelos serviços de inteligência israelenses “por razões de segurança”. Desde então, a jornalista está bloqueada. Ela decidiu continuar o seu trabalho e cobriu, em particular, em junho de 2021, as manifestações antigovernamentais que se seguiram à morte do oposicionista Nizar Banat.



Por ter desafiado a censura e alertado o mundo para a realidade de uma pandemia emergente, a vencedora na categoria 'coragem' está agora presa e em estado de saúde extremamente preocupante'', denunciou o secretário-geral da RSF, Christophe Deloire. "Por ter mostrado espírito crítico e perseverança, a vencedora na categoria 'independência' não pode sair do território israelense há dois anos. Por terem revelado a extensão da vigilância a que os jornalistas poderiam estar sujeitos, colegas, laureados na categoria 'impacto', estão sendo agora processados por Estados. Infelizmente, este é um retrato da situação do jornalismo hoje. Os vencedores do Prêmio RSF encarnam as qualidades mais nobres do jornalismo e também pagam um preço alto por isso. Eles não só merecem nossa admiração, mas também nosso total apoio.”

 

O júri desta 29ª edição, presidido pelo presidente da RSF, Pierre Haski, foi composto por eminentes jornalistas ou defensores da liberdade de expressão de todo o mundo: Rana Ayyub (colunista indiana do Washington Post), Raphaëlle Bacqué (grande repórter francesa do jornal Le Monde); Mazen Darwish (advogado sírio e presidente do Centro Sírio para a Mídia e a Liberdade de Expressão); Zaina Erhaim (jornalista e consultora de comunicação síria); Erick Kabendera (jornalista investigativo da Tanzânia); Hamid Mir (editor, colunista e escritor paquistanês); Frederik Obermaier (jornalista investigativo alemão do jornal Süddeutsche Zeitung); Mikhail Zygar (jornalista russo e fundador do único canal de televisão russo independente, Dozhd).


Criado em 1992, este prestigioso prêmio tem sido concedido, ao longo dos anos, a jornalistas ou veículos de comunicação como a russa Elena Milashina (Prêmio Coragem 2020), o saudita Raif Badawi (categoria cidadão Net 2014) ou ainda o chinês Liu Xiaobo (categoria Defensor da Liberdade de Imprensa 2004).

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Mise à jour le 18.11.2021