RSF e 16 organizações parceiras lançam a Carta de Paris sobre IA e jornalismo

Pioneira na sua área, a Carta de Paris sobre IA e Jornalismo define princípios éticos que jornalistas, equipes editoriais e meios de comunicação de todo o mundo poderão adotar e aplicar no seu trabalho na era da inteligência artificial. A carta foi criada por uma comissão iniciada pela Repórteres Sem Fronteiras (RSF) e presidida pela jornalista e vencedora do Prêmio Nobel da Paz, Maria Ressa.

No dia 10 de novembro de 2023, a RSF e 16 organizações parceiras publicaram a Carta de Paris sobre IA e Jornalismo, por ocasião do Fórum de Paz de Paris. Os trabalhos de elaboração do documento foram iniciados em julho de 2023, em parceria com organizações da sociedade civil, especialistas em inteligência artificial (IA), representantes de meios de comunicação e jornalistas. 

 

A carta foi idealizada por uma comissão reunida pela RSF e presidida por Maria Ressa, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz de 2021. Sua composição: 32 personalidades de 20 países diferentes, especialistas em jornalismo ou IA. O objetivo era claro: estabelecer um conjunto de princípios éticos fundamentais para proteger a integridade da informação na era da IA, considerando que essa tecnologia é capaz de transformar a indústria dos meios de comunicação.



De maneira inédita, muitas organizações apoiaram os esforços da comissão e da RSF: grandes organizações que defendem o jornalismo e os meios de comunicação (Comitê para a Proteção dos Jornalistas, Canadian Journalism Foundation, DW Akademie, European Journalism Centre, Ethical Journalism Network, Free Press Unlimited, Global Forum for Media Development, International Press Institute, Pulitzer Center, Thomson Foundation); uma importante federação de jornalistas (Federação Europeia de Jornalistas); uma organização representativa da radiodifusão pública (Asia-Pacific Broadcasting Union); um centro de pesquisas (Collaboration on International ICT Policy in East and Southern Africa) e consórcios de jornalismo investigativo (Global Investigative Journalism Network, International Consortium of Investigative Journalists e Organized Crime and Corruption Reporting Project).

 

Diante das perturbações causadas pela IA no espaço da informação, a Carta estabelece dez princípios essenciais para garantir a integridade da informação e preservar a função social do jornalismo. Entre os princípios centrais estão: 

  • A ética deve orientar as escolhas tecnológicas nos meios de comunicação; 
  • O julgamento humano deve permanecer central nas decisões editoriais; 
  • Os meios de comunicação devem ajudar a sociedade a discernir com confiança entre conteúdos autênticos e sintéticos; 
  • Os meios de comunicação devem participar na governança global da IA e defender a viabilidade do jornalismo nas negociações com empresas tecnológicas.

 

“A IA agrava uma situação já crítica na história do jornalismo. Embora prometa novas oportunidades, também traz ameaças consideráveis à integridade da informação. A inovação tecnológica não conduz inerentemente ao progresso: deve ser guiada pela ética para beneficiar a humanidade. Para proteger o direito à informação, jornalistas e meios de comunicação devem unir forças para garantir que a ética oriente a governança e o uso da tecnologia mais transformadora de nossa época. A Carta de Paris sobre IA e Jornalismo é um passo significativo rumo a este objetivo.” 

Maria Ressa

Fundadora e CEO do Rappler e ganhadora do Prêmio Nobel da Paz

 

“A inteligência artificial poderia fornecer serviços eminentes à humanidade, mas tem claramente o potencial de amplificar a manipulação das mentes em proporções nunca antes vistas na história.  A Carta de Paris é a primeira referência ética internacional sobre IA e jornalismo. A evidência factual, a distinção clara entre conteúdo autêntico e sintético, a independência editorial e a responsabilidade humana serão as primeiras garantias do direito à informação na era da IA. Mais do que nunca, o jornalismo exige uma base ética sólida e amplamente reconhecida. Juntamente com os nossos parceiros, convocamos os jornalistas, meios de comunicação e redações de todo o mundo para que se apropriem destes princípios, proclamando-os e aplicando-os em suas práticas.”

Christophe Deloire

Secretário-geral da RSF 

 

As tecnologias baseadas na inteligência artificial abrem novas perspectivas, mas também trazem desafios sem precedentes ao jornalismo. 

Num momento em que deepfakes podem amplificar a desinformação e quebrar a confiança do público em qualquer conteúdo audiovisual, e em que os modelos linguísticos prometem aumentar a produtividade em detrimento da integridade da informação, os meios de comunicação afirmam através desta carta que não permitirão que tecnologias os desviem da sua missão de interesse geral. A carta promove uma abordagem onde o discernimento humano e a ética dos jornalistas são os pilares da função social do jornalismo como uma voz confiável. 

Lista completa dos membros da comissão:  

  • Maria Ressa (presidente), ganhadora do Prêmio Nobel da Paz de 2021, jornalista e fundadora do Rappler (Filipinas) 
  • Charlie Beckett, professor do Departamento de Mídia e Comunicações da London School of Economics (Reino Unido)  
  • Emily Bell, professora da Columbia School of Journalism e diretora do Tow Center for Digital Journalism (Estados Unidos)  
  • Veysel Binbay, Diretor de Tecnologia da Asian Broadcasting Union (ABU) (Malásia)  
  • Lars Boering, diretor do Centro Europeu de Jornalismo (EJC) (Holanda) 
  • Lisa Campbell, Diretora de Comunicações da Independent Television Network (ITN) (Reino Unido)  
  • Phil Chetwynd, diretor de informações da Agence France-Presse (AFP) (Reino Unido)
  • Nighat Dad, Diretora Executiva da Digital Rights Foundation (Paquistão)
  • Renee DiResta, Diretora de Pesquisa do Stanford Internet Observatory (Estados Unidos) 
  • Emilia Diaz-Struck, Editora-chefe da Global Investigative Journalism Network (GIJN) (Venezuela) 
  • Kathy English, Presidente da Canadian Journalism Foundation (Canadá) 
  • Camille François, professora de relações internacionais na Columbia University School of International and Public Affairs (França) 
  • Jodie Ginsberg, Presidente do Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) (Estados Unidos)  
  • Ruth Kronenburg, Diretora Executiva da Free Press Unlimited (Países Baixos) 
  • Justyna Kurczabinska, Diretora de Estratégia e Transformação da Informação da European Broadcast Union (EBU) (Polônia) 
  • Jan Lublinski, Diretor do Departamento de Policy and Learning, DW Akademie, Deutsche Welle (Alemanha) 
  • Gary Marcus, fundador e CEO do Center for the Advancement of Trustworthy AI e professor emérito da Universidade de Nova York (Estados Unidos) 
  • Frane Maroevic, Diretor Executivo do International Press Institute (IPI) (Áustria)
  • Mira Milosevic, Diretora Executiva do Global Forum for Media Development (GFMD) (Sérvia) 
  • Hanna Möllers, Diretora Jurídica da German Federation of Journalists (DJV) e representante da Federação Europeia de Jornalistas (EFJ) (Alemanha)
  • Tabani Moyo, Presidente do International Freedom of Expression Exchange (IFEX), Diretor Regional do Media Institute of Southern Africa (MISA) (Zimbábue) 
  • Bruno Patino, Presidente do canal franco-alemão Arte (França)
  • Paul Radu, cofundador do Organized Crime and Corruption Reporting Project (OCCRP) (Romênia) 
  • Martha C. Ramos Sosa, Presidente do World Editors Forum da World Association of News Publishers (WAN-IFRA) (México) 
  • Stuart Russell, professor de ciência da computação na Universidade da Califórnia, Berkeley, e fundador do Center for Human-compatible AI (CHAI) (Estados Unidos) 
  • Gerard Ryle, Diretor do International Consortium of Investigative Journalists (ICIJ)
  • Eric Scherer, Presidente do Comitê de Notícias da União Europeia de Radiodifusão (EBU) e Diretor do News MediaLab e de Assuntos Internacionais na France Télévisions (França) 
  • Anya Schiffrin, professora de relações internacionais na Universidade de Columbia (Estados Unidos)
  • Wairagala Wakabi, Diretor Executivo da Collaboration on International ICT Policy in East and Southern Africa (CIPESA) (Uganda) 
  • Marina Walker Guevara, Diretora Executiva do Pulitzer Center (Estados Unidos) 
  • Aidan White, fundador da Ethical Journalism Network (EJN) e ex-secretário-geral da Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) (Reino Unido) 
  • Antonio Zappulla, Diretor Geral da Fundação Thomson Reuters (Itália)



Relator da comissão:  Arthur Grimonpont, Repórteres sem Fronteiras (RSF)

 

  • Lista atualizada de organizações parceiras:

     
  • Iniciadora:

    Repórteres Sem Fronteiras (RSF)

     
  • Parceiras:

    Asia-Pacific Broadcasting Union (ABU)

    Collaboration on International ICT Policy in East and Southern Africa (CIPESA)

    Canadian Journalism Foundation (CJF)

    Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ)

    DW Akademie

    European Journalism Centre (EJC)

    Ethical Journalism Network (EJN)
  • Federação Europeia de Jornalistas
  • Free Press Unlimited (FPU)

    Global Investigative Journalism Network (GIJN)

    Global Forum for Media Development (GFMD)

    International Consortium of Investigative Journalists (ICIJ)

    International Press Institute (IPI)

    Organized Crime and Corruption Reporting Project (OCCRP)

    Pulitzer Centre

    Thomson Foundation
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