“Órgãos de imprensa” protestam em frente ao consulado Saudita em Paris no aniversário do assassinato de Jamal Khashoggi

A Repórteres sem Fronteiras (RSF) colocou dezenas de manequins desmembrados vestidos com coletes de “imprensa” do lado de fora do consulado da Arábia Saudita em Paris, hoje. A manifestação marca um ano do assassinato do colunista saudita Jamal Khashoggi, morto dentro do consulado saudita em Istambul. O ato também denuncia as violações do direito à liberdade de imprensa ainda em curso no país.

Há anos cartéis mexicanos assassinaram e desmembraram jornalistas e abandonaram seus corpos em lixeiras, mas quem poderia imaginar que agentes de um governo poderiam ser capazes de matar e desmembrar um jornalista dentro de um espaço diplomático? Foi isso que aconteceu com Jamal Khashoggi dentro do consulado da Arábia Saudita em Istambul no dia 2 de outubro de 2018, um assassinato que chocou o mundo.

No 1 de outubro de 2019, a RSF organizou um protesto com manequins no primeiro aniversário de morte do Khashoggi, para lembrar ao rei da Arábia Saudita e príncipe herdeiro que o mundo continua perplexo com esse assassinato brutal. O símbolo de corpos humanos desmembrados foram usados para expressar a escala e a repercussão desse assassinato. Outras ações também serão realizadas ao redor do mundo.

A Arábia Saudita não deve exercer a presidência do G20 até que a sociedade civil e líderes mundiais tenham exigido todas as respostas sobre esse terrível crime no país, que deve passar a garantir a liberdade de imprensa e a proteção de jornalistas. A imagem internacional e o posicionamento da Arábia Saudita sobre o caso não podem ser normalizado até que as autoridades tenham esclarecido todas as responsabilidades.

O assassinato de Jamal Khashoggi e o acompanhamento das investigações demonstram as prática bárbaras e o nível inaceitável de impunidade”  afirmou o secretário geral da RSF, Christophe Deloire, hoje, na frente do consulado saudita.“Nós esperamos um registro completo e acreditamos que sentenciar os autores do crime à morte seria apenas um caminho para silenciá-los para sempre, para esconder a verdade. Esse crime terrível revelou a política da Arábia Saudita de silenciamento de jornalistas que até então era desconhecida, uma política baseada na tortura, no sequestro e inclusive em assassinatos.

Questionado sobre o assassinato de Khashoggi em uma recente entrevista para a emissora pública de TV norte americana PBS, o Príncipe Herdeiro Mohammed bin Salman (MBS) afirmou: “Eu tenho a total responsabilidade porque isso aconteceu sob a minha supervisão”, mas ele negou implicitamente qualquer conhecimento prévio ou envolvimento. Além do caráter possivelmente falacioso dessa afirmação, tomar a responsabilidade deveria significar o fim das violações contra a liberdade de imprensa na Arábia Saudita. 

A RSF pede pela libertação imediata e incondicional de 30 jornalistas, colunistas e blogueiros que estão detidos no país por exercerem seu direito à liberdade de opinião e expressão.

O jornalista Saleh Al-Shehi, do jornal Al-Watan, foi sentenciado a cinco anos de prisão com a acusação de “insultar a Corte Real”, e o blogueiro Raif Badawi, foi sentenciado, em 2014, a dez anos de prisão e a mil chibatadas por iniciar o debate sobre a sociedade saudita em seu website de rede liberal saudita. Além de duas ativistas dos direitos das mulheres Nouf Abdulaziz e Nassima Al-Sada, que foram presas em junho e julho de 2018.

O número de jornalistas e blogueiros presos na Arábia Saudita dobrou desde que MBS foi coroado como príncipe herdeiro em 2017, com ao menos 30 detidos atualmente. A Arábia Saudita ocupa a 172º posição entre 180 países na Classificação Mundial da Liberdade de Imprensa de 2019, elaborado pela RSF.

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Updated on 01.10.2019