Mulheres representam menos de 15% dos jornalistas presos, porém mais de 50% das penas mais longas proferidas no último ano

Embora as jornalistas presas sejam uma minoria e representem 12,7% dos jornalistas detidos em todo o mundo (69 mulheres, 474 homens), elas receberam cinco das nove penas mais longas proferidas a profissionais da informação desde janeiro de 2023. Figuras emblemáticas da Bielorrússia, da Birmânia e do Burundi, estas jornalistas foram condenadas a dez anos ou mais de prisão.

No Dia Internacional das Mulheres, a Repórteres Sem Fronteiras (RSF) alerta para as duras penas proferidas contra mulheres jornalistas: de dez anos até a prisão perpétua. 

Embora sejam uma minoria nas prisões – 12,7% do total de jornalistas presos no mundo – elas representam 55% dos casos com maiores condenações desde 1o de janeiro de 2023. Nunca antes tantas mulheres jornalistas foram tão duramente reprimidas nos últimos cinco anos.  

Elas se chamam Maryna Zolavata, Lyudmila Tchekina e Valeryia Kastsiouhova na Bielorrússia, e Shin Daewe na Birmânia. Estes dois países, que já figuram entre as maiores prisões do mundo para jornalistas, são, portanto, também aqueles que punem mais severamente as mulheres que ousam defender a liberdade de informar. No Burundi, a primeira jornalista condenada no país em pelo menos cinco anos, a radialista Floriane Irangabiye, foi sentenciada a dez anos de prisão em janeiro de 2023.

“A repressão histórica das mulheres jornalistas é consequência do fato de as principais figuras que personificam o jornalismo serem cada vez mais mulheres. No Dia Internacional das Mulheres, gostaria de destacar o compromisso inabalável de toda a equipe da RSF com as mulheres jornalistas. Em 2023, apoiamos 140 mulheres jornalistas através de auxílio financeiro. Apoiamos também vários projetos, como a construção de um espaço específico em Gaza para que as mulheres jornalistas tenham meios para continuar o seu trabalho, formações no âmbito da cobertura eleitoral no Senegal, e um programa de workshop para mais de uma centena de mulheres jornalistas com nossa parceira local na Índia, a Network of Women in Media.

Christophe Deloire
Secretário-geral da RSF

Os regimes mais repressivos contra as mulheres jornalistas 

Somente a Bielorrússia condenou três jornalistas a penas de dez a 12 anos de prisão em 2023: Maria Zolatava (Tut.by), Lyudmila Chekina (Tut.by) e Valeryia Kastsiouhova (Belarussian yearbook). “Cada vez mais ativas e visíveis na esfera pública, as mulheres jornalistas dos meios de comunicação independentes que criticavam o poder em vigor foram submetidas a um tratamento particularmente duro após as manifestações pós-eleitorais de agosto de 2020”, destaca Jeanne Cavelier, diretora do escritório da RSF para Europa Oriental e Ásia Central

No Burundi, Floriane Irangabiye, condenada em janeiro de 2023 a dez anos de prisão, embora nenhuma jornalista tenha sido condenada no país há pelo menos cinco anos, é também a única jornalista, entre homens e mulheres, detida no território. A apresentadora de rádio, considerada culpada por “prejudicar a segurança interna do território nacional”, trabalhava para a Radio Igicaniro, um meio de comunicação crítico em relação ao governo sediado em Ruanda, num contexto de tensões entre Ruanda e Burundi. Em fevereiro passado, sua sentença foi mantida em recurso pelo Supremo Tribunal. 

Em janeiro de 2024, a junta birmanesa subiu o tom da sua repressão contra jornalistas, condenando à prisão perpétua a documentarista Shin Daewe. Desde o golpe de estado de fevereiro de 2021, nunca foi proferida uma sentença tão severa contra um jornalista. Atualmente, 62 outros profissionais da comunicação, incluindo sete mulheres, continuam detidos em prisões birmanesas, ilustrando a extensão da arbitrariedade e da perseguição da junta em relação à liberdade de imprensa. 

Finalmente, no Irã, a onda de repressão contra jornalistas desde a criação do movimento “Mulheres, Vida, Liberdade” continua a crescer. Depois de cobrir a morte de Mahsa Amini, as jornalistas Elahe Mohammadi e Niloofar Hamedi foram condenadas, em setembro de 2022, a um total de 12 e 13 anos de prisão, respectivamente – somando as penas dos três crimes de que foram acusadas – mas, devido ao princípio de não cumulatividade das penas, as penas foram reduzidas para seis e sete anos de prisão – a mais longa das três. Concederam-lhes, finalmente, liberdade provisória em janeiro passado, após 15 meses de detenção, mas correm sério risco de serem novamente presas após o julgamento do recurso. Quatro jornalistas continuam presas no Irã, incluindo Narges Mohammadi, Prêmio Nobel da Paz 2023, detida desde novembro de 2021.

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