Haiti: RSF e mais de 90 jornalistas haitianos apelam à comunidade internacional pela proteção do direito à informação

O direito à informação no Haiti deve ocupar um lugar central nas discussões para acabar com a crise do país, que se intensificou nos últimos meses. Com mais de 90 jornalistas haitianos, a Repórteres Sem Fronteiras (RSF) lança um apelo à comunidade internacional e ao novo conselho de transição presidencial para a proteção dos jornalistas e dos meios de comunicação, para que o país não se torne um deserto de informação.

Em 16 de abril de 2024, a RSF e mais de 90 profissionais da informação haitianos lançaram um apelo internacional pela proteção do jornalismo no Haiti, apanhado entre uma onda de violência generalizada e uma crise social, econômica e política que se intensificou desde dezembro de 2023.

Esta crise afeta diretamente os jornalistas: seis profissionais da informação foram mortos desde 2022 devido à sua atividade profissional. Os repórteres também são regularmente vítimas de ameaças, ataques e sequestros. Este aumento da violência é cometido com total impunidade, na ausência de um estado de direito no país. E à medida que o controle das gangues se estende à capital, Porto Príncipe, os jornalistas se encontram confinados a alguns bairros onde ainda podem exercer a sua atividade, não sem riscos. Muitos deles tiveram que se resignar ao exílio. 

O apelo lançado no dia 16 de abril à comunidade internacional e ao conselho presidencial de transição é assinado por mais de 90 jornalistas haitianos. A maioria dos signatários está baseada em Porto Príncipe ou em cidades vizinhas. Eles estão vinculados a certas redações nacionais, como Le Nouvelliste, Haïti24 e AlterPresse, outros são independentes. Trabalham para a imprensa escrita, online, televisão, rádio. Muitos são membros da Associação de Jornalistas Haitianos (AJH). Juntos, e com a RSF, estão soando o alarme.

 

“É difícil imaginar um contexto mais complexo para o exercício do jornalismo do que o que temos hoje no Haiti. Aos desafios históricos que a imprensa enfrenta no país soma-se o impacto da insegurança que atingiu um nível sem precedentes nos últimos meses, com jornalistas atacados, raptados e impedidos de viajar devido à ação de gangues, e encontrando-se numa situação de precariedade econômica generalizada. O ecossistema de informação do Haiti está em perigo como um todo, embora a informação seja um recurso mais essencial do que nunca para informar ao mundo o que está acontecendo no país. O jornalismo deve ocupar um lugar central nas discussões sobre o fim da crise e figurar na agenda da cooperação internacional.

Artur Romeu
Diretor do escritório da RSF para a América Latina

O Haiti enfrenta uma crise sem precedentes. Desde o assassinato do Presidente Jovenel Moïse, em julho de 2021, o país atravessa um período de extrema instabilidade política e insegurança generalizada. No dia 12 de abril de 2024, foi criado oficialmente um conselho de transição, um mês depois do anúncio da demissão do primeiro-ministro Ariel Henry, com a missão de restaurar a segurança no país até 7 de fevereiro de 2026. Um novo Primeiro Ministro será designado por este conselho, cujos membros ainda não foram nomeados, e será responsável pela formação de um governo.

 

Leia a íntegra da carta assinada pela RSF e pelos jornalistas haitianos:

A RSF apela à proteção dos jornalistas haitianos: o direito à informação é um recurso vital! 

 

O mundo precisa saber o que está acontecendo no Haiti. Para isso, o Haiti precisa de um jornalismo independente, confiável e plural, onde os profissionais da informação possam trabalhar com total segurança. 

 

No entanto, o jornalismo no Haiti encontra-se num estado crítico. Embora os desafios não datem de hoje, raramente na história recente do nosso país pudemos assistir a uma tal deterioração das condições de trabalho e de vida.

 

Nós, jornalistas haitianos, vivemos diariamente com medo de sermos agredidos, de sermos sequestrados, de sermos assassinados. Desde 2022, pelo menos seis dos nossos colegas foram mortos devido à sua atividade profissional. Outros são atacados e feridos, feitos reféns, quando cobrem manifestações num contexto de conflitos armados regulares entre diferentes gangues e a polícia. Abusos que nós, jornalistas, sofremos com absoluta impunidade, na ausência de um estado de direito.

 

Nós, jornalistas haitianos, alertamos para o fato de que bairros inteiros da capital, Porto Príncipe, se tornaram inacessíveis. Esses territórios proibidos devido ao seu controle por grupos armados são cada vez mais numerosos.

 

Nós, jornalistas, alertamos também para as consequências estruturais deste contexto de insegurança generalizada: a deterioração das infraestruturas, a falta de acesso à formação, a instabilidade financeira das redações, a precariedade das condições materiais necessárias ao trabalho dos jornalistas.

 

As condições de segurança do nosso trabalho deterioraram-se tanto que continuar a nossa missão torna-se um ato de heroísmo diário. Diante desses riscos significativos, a autocensura, o abandono da profissão e o exílio são alternativas que se apresentam cada vez mais como as nossas únicas estratégias de sobrevivência.

 

Nesta crise multidimensional que afeta o nosso país, o jornalismo e o direito à informação são essenciais. É por isso que apelamos à comunidade internacional, às agências de cooperação, às organizações internacionais e ao Conselho Presidencial de Transição, para que o apoio aos jornalistas e ao ecossistema midiático ocupe um lugar central nas discussões sobre a saída da crise. O mundo precisa saber o que está acontecendo no Haiti e o Haiti precisa ainda mais do jornalismo.

 

Signatários:

 

  • Alphonse ROBERSON, Chefe da seção de atualidades nacionais do diário Le Nouvelliste /Diretor de informação na radioMagik 9
  • Andre FRASME, Chefe da seção de redação da Television Nationale D'Haiti
  • Angeline MICHEL
  • Anicile MAÎTRE, Jornalista na RadioMagik9
  • Célou FLÉCHER, PDG/ Editor chefe no LE FACTEUR HAÏTI
  • Césaire MICHELSON, Redator no Le Nouvelliste
  • Corentin FOHLEN, Fotojornalista freelance paraa Divergence
  • Daniel SAINT HILAIRE
  • Danio DARIUS, Radio Magik9, Le Nouvelliste
  • Danise Davide LÉJUSTAL, Jornalista na Radio Métronome/ Correspondente para o jornal Le Nouvelliste em Jacmel / Presidente do Cénacle des Journalistes du sud-est
  • Denor SEVERE, Radio Minustah FM
  • Eddy JAZIL, PDG Radio Super sonic e jornalista na Radio Télé Métropole
  • Emmanuel HUBERT
  • Ésau CESAR, Radio Eclair
  • Fabiola Carmel WELLINGTON, Dofen News Radio
  • Fedner CONFIDENT, Jornalista na Television Nationale d'Haïti
  • Fegentz Canes PAUL, Radio Capital FM
  • Félix VALERY, Correspondente para o Le Nouvelliste
  • François JEAN
  • Frantz DUVAL, Redator chefe do diário Le Nouvelliste e diretor da Ticket Magazine no Haiti /Diretor radioMagik 9
  • Gabrielle RENE
  • Georges Emmanuel ALLEN, Haïti 24
  • Georges Venel REMARAIS, Diretor Geral da Radio Solidarité e da Agence Haïtienne de Presse (AHP)/Presidente da Association des Médias Indépendants d’Haiti (AMIH)
  • Germina PIERRE LOUIS, Le Nouvelliste, RadioMagik9
  • Gotson PIERRE, Diretor da plataforma AlterPresse/AlterRadio
  • Guerking SOUFFRANT, Passion Info Plus
  • Guerrier DIEUSSEUL, RadioTVCaraibes
  • Guivintz MAXINEAU, Jornalista, Diretor de Programação da Radio Fantastic FM 95.7
  • Guyno DUVERNÉ, Correspondente Radio Mega
  • Iheriston AUGUSTE
  • Jacky MARC
  • Jacques DESROSIERS, Secretário Geral da Association des Journalistes Haïtiens
  • Jacques Stevenson SAINT-LOUIS, Radio éducative du Ministère de l’éducation nationale et de la formation professionnelle
  • Jean Alexandro Richarson JOURDAN
  • Jean Allens MACAJOUX, RTV Galaxie
  • Jean Daniel SENAT, Jornalista Le Nouvelliste Haïti e radioMagik 9
  • Jean Fouchard DANGER, RTéléPacific
  • Jean Gérard PIERRE, Redator do jornal Union
  • Jean Israël VALESTIN, Radio Signal FM
  • Jean Michel CADET, Jornal Le Matin
  • Jean Pharès JEROME, Correspondente RSF no Haiti
  • Jean Philippe MACEANT, Jornalista na Radio Méga
  • Jean-Wickens MÉRONÉ
  • Jeannot ANTOINE
  • Jimmy MAXI, Diretor da Max News
  • John-Becker JEAN, Radio Réfénce FM/ Redator e repórter
  • Jonas MONTES
  • Judex VELIMA, Radio télé Espace
  • Junior JORDANY VERDIEU, Correspondente para o Le Nouvelliste
  • Juno JEAN BAPTISTE, Port-au-Prince Post
  • Kenly VILSAINT, Télévision nationale d'Haïti
  • Kensley MARCEL
  • Kervens Adam PAUL, Le Nouvelliste
  • Kéthia Marcellus
  • Kettia JEAN PIERRE, Radio web Diaspora Inter
  • Léonel DORCILIEN, Correspondente para a Radio Télé Ginen em Cap-Haïtien
  • Lionel ÉDOUARD, Jornalista/Apresentador na Television Nationale d'Haïti
  • Louinel JEAN LOUIS, Radio télé signal
  • Lubrun GODSON, Jornalista HAITI Press Network
  • Manuel YVES, Diretor de informações na Radio Télé Scoop
  • Mapouse ANTOINE
  • Marie André BELANGE, Radio Vision2000
  • Marie Chrisnette SAINT GEORGES, Apresentadora de meteorologia
  • Marie Lucie BONHOMME, Jornalista e co-fundadora TELEPLURIEL / Apresentadora Radio Vision 2.000
  • Marie Michele MONTAS
  • Marie Raphaëlle PIERRE, Radio Ibo
  • Marie Smelck Fabienne VILTUD
  • Martine ISAAC, Solidarité des Femmes Haïtiennes Journalistes (SOFEHJ)
  • Michel JOSEPH, Radio Télévision Caraïbes
  • Milo MILFORT, Enquet'Action
  • Nancy CONSTANT, Réseau des Femmes des Radios Communautaires Haitiennes (REFRAKA)
  • Noclès DEBREUS, Jornalista e secretário de redação do Journal Le National
  • Peterson JEAN GILLES
  • Pierre Lunick REVANGE, jornalista na SIGNAL FM
  • Robenson SANON, Jornalista RadioMagik9
  • Roberson ALPHONSE, Le Nouvelliste
  • Sabine JEAN, TNH
  • Salomond Paul Ludjet FENELUS
  • Sheilla Angélique LOUIS, Radio Métropole
  • Sophia CHERY, Union internationale de la Presse Francophone
  • Sylvestre Fils DORCILUS, Haïti Scopie
  • Therno N. Alisthène SENELUS
  • Théroné Jido
  • Valéry DAUDIER, Le Nouvelliste
  • Violine THELUSMA
  • Wandy CHARLES, Diretor de Comunicação no Office national d'identification (ONI)
  • Wilgins VALESCOT, Presidente Realité info
  • Yves Paul LEANDRE, Haiti Press Network (HPN)
  • Yvon SEIDE, Radio Télé Signal
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