Eleições no Brasil: agenda internacional do Presidente e novo debate na TV entre candidatos abrem espaço para ataques à imprensa

A cobertura política da semana foi marcada pela agenda internacional do Presidente Bolsonaro: em Londres, no dia 19, para o funeral da Rainha Elizabeth II, e em Nova Iorque, no dia 20, para a Assembleia Geral da ONU. Também ganhou destaque o debate entre candidatos à presidência organizado por um pool de veículos e transmitido no SBT no dia 24 de setembro. Boa parte dos conteúdos ofensivos à imprensa registrados durante o período foram direcionados a jornalistas que fizeram a cobertura ou análise desses eventos. 

Nesta semana de 19 a 25 de setembro, a Repórteres sem Fronteiras (RSF) registrou 21.119 postagens com conteúdos ofensivos à imprensa no Twitter. No período analisado, foram identificadas 72 hashtags de ataques a veículos e jornalistas. Com um número expressivo e pela sexta semana consecutiva está  #GloboLixo, mencionada 8.921 vezes. Outras hashtags de relevância foram: #CNNLixo (1.680); #GloboLixoDerretendo (648); #FolhaLixo (280); #UolLixo (195); #Globosta (78). O Grupo Globo continua como a empresa de comunicação cujos veículos sofrem mais agressões direcionadas.

No grafo abaixo fica evidente a relação entre o compartilhamento de hashtags de ataque à imprensa e hashtags de apoio a Jair Bolsonaro, como #bolsonaronoprimeiroturno22, #bolsonaroeleitoem2022, #bolsonaro22 ou também em conexão com hashtags de ataque a adversários do presidente, como #luladrao, bastante compartilhada em articulação com ataques aos veículos de comunicação.

Alvos da semana

Na coleta desta semana, os jornalistas que mais receberam postagens ofensivas por meio de hashtags, replies e menções foram Miriam Leitão (2.105), Mônica Bergamo (1.511), Eliane Cantanhêde (1.113), Ricardo Noblat (743), Andréia Sadi (689), Reinaldo Azevedo (557), Vera Magalhães (406), Bernardo Mello Franco (204), Gerson Camarotti (189) e Milton Neves (179).

Miriam Leitão, que ocupava o segundo lugar entre os jornalistas mais atacados na semana anterior, foi a mais agredida neste período, 2.105 postagens direcionadas no total, motivados sobretudo pela cobertura da agenda internacional do presidente Jair Bolsonaro, do debate entre presidenciáveis na TV e pelas análises feitas pela jornalista sobre as pesquisas de intenção de voto para a presidência da República. As tentativas de descredibilização de institutos de pesquisa têm sido uma das tônicas das campanhas de desinformação movidas pelos apoiadores de Bolsonaro nessas eleições.

 

Imagens que agridem

Além dos insultos e intimidações em mensagens e hashtags, uma forma de intensificar os ataques contra jornalistas e a imprensa em geral tem sido a distribuição coordenada de imagens ou vídeos agressivos. Algumas imagens são dos próprios jornalistas, muitas vezes adulteradas, outras são montagens e memes que ajudam a viralizar as ofensas. 

Vídeos com o registro de ataques sofridos presencialmente por jornalistas, que têm grande capacidade de viralização, também têm se transformado em formas de reprodução e manutenção do ciclo de violências contra a imprensa. Nesta semana, o destaque foi um vídeo da entrada ao vivo da repórter Heloísa Villela, na CNN Brasil, repercutindo o discurso do presidente Bolsonaro na Assembleia Geral da ONU. Enquanto a jornalista falava, um apoiador do presidente presente no local gritava “Globo lixo” e “CNN lixo”. O áudio entrou na transmissão e o vídeo foi compartilhado em associação a postagens com outros ataques, como pode ser observado pelas linhas que os conectam no grafo abaixo.

 

Outro vídeo que obteve grande repercussão na semana mostra a repórter Ana Zimmerman, jornalista da RPC, afiliada da Rede Globo no Paraná, sendo hostilizada por um grupo de manifestantes que gritam "Globo lixo" em Curitiba. Quando ela reage, a hostilização se intensifica. Essa retroalimentação entre agressões presenciais e sua repercussão online aumenta ainda mais a exposição e vulnerabilização desses profissionais.

O perfil das contas agressoras

Nessa semana, entre as principais contas que realizaram ataques a jornalistas e veículos de imprensa estão: @sonialimamcathy, @_fasmc, @valtercota1, @morgado11jose, @ronirferreira, @srgiosobreiras1, @anderson_a_mach, @tamarcosportug1, @mateusl07113345 e @chebert11. Os perfis @_fasmc, @anderson_a_mach, @mateusl07113345 e @chebert11 já apareceram entre os maiores agressores em semanas anteriores da campanha eleitoral.

Alguns desses perfis também destacam-se por comportamento não compatível com atuação orgânica, típico de contas automatizadas e/ou dedicadas a promover engajamento artificial em postagens. Em comum, essas contas têm como principais temas de postagem o apoio ao presidente Bolsonaro, críticas ao candidato Lula e ataques à imprensa.

Sobre o projeto

Durante as eleições (16 de agosto a 30 de outubro), a Repórteres sem Fronteiras realiza um monitoramento sistemático das redes sociais, em particular do Twitter, para analisar e decifrar o alcance e os padrões por detrás dessa hostilidade crescente contra o jornalismo. Até o final do segundo turno, 120 jornalistas e comentaristas, além de perfis de autoridades públicas e candidatos às eleições, serão acompanhadas diariamente em parceria com o Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), centro de pesquisa de referência especializado em análise de redes sociais e tendências digitais. 

A RSF publica análises semanais com base nos levantamentos realizados, que serão compilados nesta página.

Publié le