Doze nomeados ao Prêmio RSF 2018, entregue pela primeira vez em Londres
Pela primeira vez em sua história, a Repórteres sem Fronteiras (RSF) entregará o Prêmio para a liberdade de imprensa durante uma cerimônia em Londres, dia 8 de novembro próximo. No total, 12 jornalistas, ONGs e veículos de comunicação do mundo inteiro foram nomeados em três categorias: coragem, impacto e independência do jornalismo. Para homenagear a cidade anfitriã de Londres, um quarto prêmio, "O espírito RSF" (L'esprit RSF), será entregue a um jornalista ou meio de comunicação britânico.
Pela primeira vez em 26 anos, a cerimônia de entrega do Prêmio RSF para a liberdade de imprensa acontecerá em Londres, na Getty Images Gallery, no dia 8 de novembro de 2018. Doze jornalistas, ONGs e meios de comunicação do mundo inteiro concorrem em três categorias renovadas este ano para estar em conformidade com o mandato e a estratégia da RSF: coragem, impacto e independência do jornalismo. Para homenagear a cidade anfitriã de Londres, um quarto prêmio, "O espírito RSF" (L'esprit RSF), será entregue a um jornalista ou meio de comunicação britânico designado entre quatro finalistas.
Entre os nomeados, Matthew Caruana Galizia, jornalista maltês cuja mãe, Daphne Caruana Galizia, foi assassinada em 2017 após sua investigação sobre a corrupção; Paolo Borrometi, jornalista italiano especialista em máfia siciliana, vítima de um complô assassino desarmado pela polícia italiana; Swati Chaturvedi, jornalista indiana e autora do livro "I am a Troll: Inside the Secret World of the BJP's Digital Army” ("Eu sou um troll: minha incursão no mundo secreto do exército digital do BJP") e Anas Aremeyaw Anas, jornalista ganense infiltrado que vive agora na clandestinidade após suas revelações sobre a corrupção no mundo do futebol africano.
"A lista de finalistas da edição 2018 reflete os desafios que revelam com coragem e tenacidade jornalistas do mundo inteiro, declarou Christophe Deloire, secretário geral da RSF. Todos lutam contra forças que convergem para enfraquecer a independência do jornalismo, assediadores cibernéticos, o crime organizado ou os Estados autoritários". Este ano, os premiados foram designados por um júri internacional composto por personalidades como Shirin Ebadi, ganhadora do prêmio Nobel da paz, Wu'er Kaixi, militante chinês - ambos membros do conselho emérito da RSF - e Pierre Haski, presidente da RSF. O conselho administrativo do escritório da RSF de Londres - formado por Eve Pollard, figura legendária da Fleet Street (rua histórica da imprensa londrina), James Harding, ex-diretor da BBC News, e Jon Snow, apresentador do Channel 4 News - selecionou o ganhador do prêmio especial "L'esprit RSF".
Criado em 1992, o Prêmio RSF para a liberdade de imprensa contribui a cada ano para o avanço da liberdade de informação recompensando os jornalistas e meios de comunicação que se destacaram na defesa ou na promoção da liberdade de informação. Além de sua dimensão honorífica, os prêmios entregues aos ganhadores são acompanhados de uma recompensa no valor de 2500 euros. O Prêmio RSF já foi entregue ao conhecido dissidente chinês Liu Xiaobo, ao blogueiro saudita aprisionado Raif Badawi, à corajosa jornalista síria Zaira Erhaim e ao jornal turco em luta Cumhuriyet.
O Prêmio Coragem
O Prêmio Coragem recompensa um jornalista, um meio de comunicação ou uma organização por ter demonstrado coragem no exercício, defesa ou promoção do jornalismo, num ambiente hostil e a despeito do perigo para a sua própria liberdade ou segurança.
Paolo Borrometi (Itália)
Jornalista e escritor italiano, nascido na Sicília em 1983, Paolo Borrometi é especialista em máfia siciliana. Devido a suas corajosas investigações publicadas pelo "Giornale di Sicilia" e depois pelo jornal online La Spia, que ele criou em 2013, o jornalista é regularmente ameaçado e vive sob escolta, noite e dia, cercado por cinco policiais. Em abril de 2018, as forças de ordem italianas desmantelaram um atentado a bomba contra ele e contra os cinco policiais que o protegem. De Roma, onde se exilou, Borrometi continua sem descanso sua luta contra o crime organizado, a despeito das intimidações sistemáticas que ainda recebe.
Swati Chaturvedi (Índia)
Jornalista indiana, Swati Chaturvedi foi alvo de violentas campanhas de assédio online. A essas ameaças, decidiu responder com as armas do jornalismo: investigou, sobretudo, a "célula TI" do partido do Primeiro Ministro Narendra Modi (BJP), conhecido por manter um exército de trolls sem limite. Daí nasceu seu livro "I am a Troll: Inside the Secret World of the BJP’s Digital Army”. Por meio de testemunhos colhidos no próprio núcleo dessa célula, totalmente montada pelo BJP, ela mostra como esses milhões de "yoddhas" ("guerreiros" em hindi), como são chamados por Narendra Modi, são encarregados de atacar nas redes sociais os jornalistas inscritos numa "lista de alvos" estabelecida pelo partido nacionalista hindu. Hoje, a investigação realizada por Swati Chaturvedi a expõe ainda mais às ameaças de morte lançadas pelos trolls que ela recebe cotidianamente.
Çiğdem Toker (Turquia)
Apesar das ameaças, a jornalista investigativa Çiğdem Toker multiplica as investigações sobre corrupção numa Turquia onde a repressão atinge níveis inigualáveis. Quando o jornal Akşam foi colocado sob tutela pelas autoridades em 2013, ela se juntou a um dos últimos títulos independentes do país, o Cumhuriyet. Com 32 anos de carreira, ao longo dos quais cobriu temas econômicos, políticos e judiciais, Çiğdem Toker se impõe hoje como uma das grandes figuras da investigação. O que lhe valeu um reconhecimento crescente - e uma cascata de processos. Conflitos de interesse, clientelismo, nepotismo, mercados manipulados, apropriação de áreas não edificáveis... Suas revelações sobre esses temas altamente sensíveis lhe valeram processos de empresas privadas com ramificações políticas, do ministério da Saúde e muitos outros.
Hamid el Mahdaoui (Marrocos)
Hamid el Mahdaoui é um jornalista marroquino, diretor do site badil.info, figura proeminente nas redes sociais marroquinas. Conhecido por seus posicionamentos críticos com relação ao poder e por seus vídeos difundidos no YouTube, nos quais comenta temas de atualidades, el Mahdaoui está na mira das autoridades e já foi alvo de uma dezena de processos, especialmente, por difamação. Foi preso no dia 20 de julho de 2017, quando estava em Al-Hoceïma, região do Rif, para cobrir a marcha pacífica proibida alguns dias antes pelas autoridades marroquinas. Em 2017, foi condenado a um ano de prisão em regime fechado por "incitação a uma manifestação proibida". Em 28 de junho passado, o tribunal de apelação de Casablanca o condenou a três anos de prisão em regime fechado por "não denúncia de atentado à segurança interior do Estado".
O Prêmio Impacto
O Prêmio Impacto recompensa um jornalista, um meio de comunicação ou organização cujo trabalho permitiu a melhora concreta da liberdade de imprensa, da independência e do pluralismo do jornalismo ou uma conscientização sobre este tema.
Matthew Caruana Galizia (Malta)
Matthew Caruana Galizia, 32 anos, é um jornalista investigativo maltês. Trabalhou por cinco anos para o Consórcio Internacional de Jornalismo Investigativo (ICIJ) no qual foi um dos fundadores da unidade "Data and Research", em 2014. Ocupou o cargo de engenheiro chefe em seis grandes investigações do consórcio: Offshore Leaks, Swiss Leaks, Luxembourg Leaks, Fatal Extraction, Panama Papers, e Paradise Papers, recebendo o Prêmio Pulitzer em 2017 por seu trabalho sobre os Panama Papers e o suporte prestado às investigações de centenas de jornalistas ao redor do mundo. Em 2018, Matthew deixou a ICIJ para se dedicar à investigação sobre o assassinato de sua mãe, Daphne Caruana Galizia, ela própria uma jornalista investigativa, morta em 2017 por um atentado a carro bomba próximo à sua residência em Malta.
O Centro Comunicação e Informação da Mulher (México)
O Centro "Comunicação e Informação da Mulher" (CIMAC) é uma associação civil fundada em 1988 por mulheres jornalistas e profissionais da comunicação. O coletivo promove a igualdade de gêneros e os direitos humanos junto a jornalistas, atores políticos, a sociedade civil e o mundo universitário. O Cimac tem por objetivo, especialmente, construir um jornalismo mais sensível à questão do gênero e à garantia de que os meios de comunicação, que considera como ferramenta de educação e de transformação social, respeitem os direitos das mulheres em seu trabalho cotidiano.
Khaled el Balshy (Egito)
Khaled el Balshy é um jornalista egípcio que foi uma importante figura do sindicato dos jornalistas, na mira do regime por suas atividades profissionais e seu envolvimento constante na defesa da liberdade de imprensa e de seus colegas no país. Khaled el Balshy foi fundador e redator chefe de vários sites de notícias. Defensor ferrenho da liberdade de imprensa, milita junto às autoridades a favor de seus colegas presos e não hesita em lançar ou colaborar com petições para protestar contra as medidas ou projetos de lei repressivos para a imprensa. É vítima regular de campanhas de difamação.
Afssar Sadeq Vali (Afeganistão)
Afssar Sadeq Vali é diretor da rádio DéHilo Karavan na província de Khost (sudeste do país), na fronteira com o Paquistão, uma das regiões mais tradicionalistas e perigosas do país. Sua rádio iniciou suas transmissões em 2009 e, desde então, é a única destinada às mulheres em sua região. Num país onde a propaganda fundamentalista ainda é aplicada em algumas regiões e onde o simples fato de ser jornalista para um mulher pode lhe valer graves ameaças, Afssar Sadeq escolheu formar mulheres em radiojornalismo. Ameaçado inúmeras vezes pelos Talibãs e chefes de vilarejos e boicotado por uma parte da população "porque ele trabalha com e para as mulheres ", Afssar Sadeq Vali escolheu resistir. Hoje, sua rádio tem uma audiência de mais de um milhão de pessoas dos dois lados da fronteira.
O Prêmio Independência
O Prêmio Independência recompensa um jornalista, um meio de comunicação ou uma organização por sua resistência a pressões financeiras, políticas, econômicas, religiosas, etc.
ANAS Aremeyaw Anas (Gana)
Portando um véu de pérolas em cada uma de suas aparições públicas, Anas Aremeyaw Anas se impôs como a figura do jornalismo investigativo independente na África Ocidental. A alguns dias da publicação de sua última investigação sobre a corrupção no futebol ganês, Anas Aremeyaw Anas foi ameaçado de morte ao vivo na rádio por um deputado da maioria no poder. O jornalista vive escondido e se comunica por meio de mensagens criptografadas com seus interlocutores. Apresar das pressões políticas e das ameaças contra sua segurança, ele não recua. "Número 12", seu documentário, que foi ao ar em junho passado, mostra por uma câmera escondida o presidente da federação ganesa de futebol no momento em que aceita propina. Em 2015, sua investigação sobre a magistratura levou à suspensão de cerca de trinta juízes.
Péter PETŐ (Hungria)
Péter PETŐ é redator chefe adjunto do site de notícias húngaro www.24.hu. Entre agosto de 2015 e outubro de 2016, foi redator chefe adjunto do principal diário político húngaro Népszabadsag que fechou da noite para o dia devido a "dificuldades econômicas", quando havia acabado de publicar vários artigos sobre escândalos envolvendo políticos próximos a Viktor Orban. Jovem jornalista talentoso e incorruptível, Peter Peto está formalmente vinculado à causa da liberdade de imprensa e convencido de que uma imprensa livre permite garantir um controle sobre aqueles que governam o país. Defende sem cessar sua fé no jornalismo e dedica-se a resistir às pressões econômicas e financeiras das quais foi, com frequência, alvo.
Inday Espina-Varona (Filipinas)
Experiente jornalista filipina, também muito ativa nas redes sociais, Inday Espina-Varona conduziu inúmeras investigações sobre temas sensíveis na sociedade filipina, como a prostituição de menores, as violências contra mulheres, as questões LGBT, ou ainda a Frente Moro de Libertação Islâmica na ilha de Mindanao. Defensora ferrenha da liberdade de informar, também ficou famosa por ter promovido e conduzido inúmeras oficinas de educação sobre meios de comunicação. Hoje, com o site Rappler, de quem Inday é próxima, ABS-CBN, o veículo com o qual colabora, representa a resistência contra a "democratura" do presidente Rodrigo Duterte que, desde sua chegada ao poder em 2016, lançou uma guerra aberta contra os veículos de comunicação independentes.
Safenewsrooms.org (Paquistão - Sul da Ásia)
Fundado por Taha Siddiqui, jornalista paquistanês forçado ao exílio após uma tentativa de sequestro em janeiro de 2018, safenewsrooms.org é uma plataforma digital cujo objetivo é lutar contra a censura que assola os meios de comunicação da Ásia Meridional - "SAFE" faz referência à necessidade de poder produzir informação independente em completa segurança, mas também é o acrônimo de South Asians for Freedom of Expression. O establishment militar e os serviços secretos do Paquistão, os meios nacionalistas hindus na Índia, os extremistas islâmicos do Bangladesh... Em todo o subcontinente, grupos violentos ameaçam, sequestram ou matam repórteres por ousarem abordar temas considerados "proibidos". O Safenewsrooms.org objetiva ser um espaço de liberdade onde os jornalistas podem registrar suas investigações, prestar testemunho das intimidações das quais são vítimas, denunciar os casos de censura dos quais são alvo...
O Espírito RSF
A premiação "L'esprit RSF" é um prêmio especial criado este ano para recompensar um jornalista, um meio de comunicação ou uma ONG britânica que tenha demonstrado uma coragem excepcional, exercido um impacto considerável ou demonstrado independência diante de pressões significativas.
Carole Cadwalladr
Jornalista premiada que trabalha para o The Guardian e o The Observer, Carole Cadwalladr realizou uma reportagem sobre a manipulação dos processos democráticos nos Estados Unidos e no Reino Unido, revelando o papel da Cambridge Analytica nas campanhas de Trump e do Brexit. A investigação da jornalista mostrou que a empresa de análise de dados que trabalhou com a equipe de campanha de Trump, nos Estados Unidos, e com a campanha do Leave, no Reino Unido, coletou milhões de perfis do Facebook de eleitores americanos num dos maiores vazamentos de dados do gigante tecnológico, antes de usá-los para criar um software poderoso capaz de prever e influenciar as escolha dos eleitores. Suas reportagens fizeram com que seja, ainda hoje, vítima de pressões e de assédio.
Madison Marriage
Correspondente do Financial Times especializada em contabilidade e tributos, Madison Marriage infiltrou-se, em janeiro, no 33o jantar de caridade anual do Presidents Club de Londres. Contratada como recepcionista para essa noite de coleta de fundos reservada aos homens, Marriage revelou, através de sua investigação, que inúmeras mulheres contratadas para o evento foram vítimas de apalpamento e assédio sexual. Oficialmente, a noite de gala tinha por objetivo levantar fundos para obras filantrópicas. Após sua reportagem, várias obras de caridade beneficiárias recusaram publicamente as doações, e os convidados se desligaram do Presidents Club, que foi forçado a fechar.
The Bureau Local
Rede colaborativa de jornalismo investigativo que reúne 762 pessoas em todo o Reino Unido. The Bureau Local tem por vocação desencadear uma nova onda de jornalismo investigativo baseada em dados regionais. Desde seu lançamento, em março de 2017, a rede produziu 180 artigos, com frequência dedicados à responsabilização do governo local e nacional, assim como de empresas. O The Bureau Local trabalha também na promoção da transparência e propõe recursos livres que permitam a outros jornalistas aprofundar seu trabalho investigativo. O objetivo é facilitar o trabalho dos jornalistas na realização de suas investigações e na análise de grandes conjuntos de dados.
A BBC e o The Guardian
A BBC e o The Guardian fazem parte dos 96 meios de comunicação de 67 países que participaram da investigação do ICIJ sobre os Paradise Papers. As revelações dos Paradise Papers provocaram um debate mundial sobre os arranjos fiscais offshore. Em dezembro de 2017, o escritório de advogados britânico especializado nos mecanismos offshore, Appleby, abriu um processo de abuso de confiança contra a BBC e o The Guardian, pedindo a divulgação dos documentos e das fontes dos Paradise Papers. A RSF condenou o processo Appleby, salientando que ele poderia representar um novo e grave questionamento do jornalismo investigativo no Reino Unido, destacando que as informações publicadas eram, sem sombra de dúvida, de interesse público.