Brasil: Revista AzMina é alvo de ataques após publicar reportagem sobre aborto

A Repórteres sem Fronteiras (RSF) condena a onda de ataques contra a redação da Revista AzMina, uma publicação online voltada para mulheres, após a publicação de uma reportagem sobre o aborto. O pluralismo e a liberdade de opinião estão cada vez mais ameaçados no Brasil.

No dia 18 de setembro, a Revista AzMina publicou uma reportagem intitulada “Como é feito um aborto seguro?”, na qual as autoras abordam o tema do aborto seguro com base em informações públicas e recomendações feitas pela a Organização Mundial da Saúde (OMS). A reportagem menciona explicitamente o fato de que o aborto no Brasil é crime, com três exceções.


Após a publicação da reportagem, as contas da revista nas redes sociais foram alvos de ataques em série: ameaças, insultos, pedidos de prisão e incitação à violência e ao linchamento virtual. Esses ataques levados à cabo em particular por grupos anti aborto e figuras da direita conservadora foram inclusive propagados por deputados federais do PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, e pela própria ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves. A ministra chegou a afirmar na sua conta do Twitter que o caso se tratava de “apologia ao crime” e que havia encaminhado uma denúncia junto ao Ministério Público Federal.


Contactadas pela RSF, a equipe da Revista AzMina afirmou ainda que dados pessoais de jornalistas foram compartilhados publicamente em redes sociais, aumentando a exposição a ataques e ameaças.


"A Repórteres sem Fronteiras condena a onda de ataques e se solidariza com as jornalistas da Revista AzMina", declarou Emmanuel Colombié, diretor do escritório para a América Latina da organização. "É inconcebível que representantes do Estado participem desse tipo de intimidação nas redes sociais, incitando ao ódio e estigmatizando a profissão, quando deveriam ser os primeiros a defender a liberdade de imprensa e a proteção dos jornalistas."


A Revista AzMina é uma publicação online fundada e administrada exclusivamente por mulheres que cobre de forma abrangente temas relacionados aos direitos das mulheres. Engajada na defesa da igualdade de gênero, a redação da AzMina também organiza formações e debates sobre o tema no país.


Assim como os ataques contra o The Intercept Brasil, o caso é sintomático das dificuldades encontradas por jornalistas que trabalham sobre temas considerados sensíveis no país, onde campanhas de intimidação e perseguição contra a imprensa se tornaram frequentes e se intensificaram com a chegada ao poder do presidente Bolsonaro em janeiro de 2019.


O Brasil ocupa o 105° lugar, entre 180 países, após ter caído três posições no Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa de 2018, elaborado pela RSF.

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Updated on 24.09.2019