Biblioteca digital da Repórteres sem Fronteiras contra a censura ganha sala dedicada ao Brasil

No Dia Mundial contra a Cibercensura, 12 de Março, a Repórteres sem Fronteiras (RSF) abre duas novas salas na "Uncensored Library", a Biblioteca Sem Censura. As novas salas são especialmente dedicadas a reportagens que sofreram censura no Brasil e na Belarus e que, agora, ficam novamente acessíveis ao público. Lançada há um ano, a Biblioteca Sem Censura foi construída dentro do jogo de computador Minecraft. Nas suas salas, textos que tenham sido bloqueados ou censurados são novamente disponibilizados e podem ser lidos tanto em inglês, quanto nas línguas nativas dos seus autores. Até agora, a biblioteca reúne artigos do Egito, México, Rússia, Arábia Saudita e Vietnã.

"Desde o início dos protestos em massa contra as eleições fraudulentas na Belarus, o governo de Alexander Lukashenko vem reprimindo fortemente os jornalistas e utilizando todos os meios ao seu alcance para impedir que os cidadãos consigam informar-se de forma independente sobre aquilo que se passa no seu país. Graças ao Minecraft, a Biblioteca Sem Censura permite acessar artigos bloqueados, que ficam assim à disposição de todos", declarou Christian Mihr, diretor da RSF Alemanha.

No Brasil, estamos observando um aumento significativo de processos judiciais abusivos contra jornalistas e meios de comunicação, em sua maioria movidos por representantes do Estado ou pessoas próximas à presidência”, declarou Emmanuel Colombié, diretor da RSF para a América Latina. “Essa censura indireta, alimentada por um clima extremamente marcado pela polarização política, é muito preocupante, pois gera autocensura e fere gravemente a liberdade de informação do país”.

Desde a abertura da Biblioteca Sem Censura, mais de 20 milhões de jogadores de 165 países procuraram informação sobre a situação da liberdade de imprensa a nível mundial. Muitos deles são de países nos quais a censura ainda prevalece. A biblioteca é um projeto em constante evolução. Nos últimos dois meses, peritos da Blockworks, uma empresa especializada em Minecraft, construíram dois novos pavilhões dentro do jogo para abrigar textos da Belarus e do Brasil.

Bloqueios na Belarus, censura no Brasil


Na Belarus, a televisão e a maioria da imprensa escrita estão nas mãos do regime de Alexander Lukashenko. A informação independente é divulgada principalmente por sites de notícias na internet ou por meios de comunicação que atuam a partir do exílio e cujos jornalistas estão sob forte pressão. Natallja Radsina é editora-chefe do Charta97, um popular portal de notícias que divulga informação independente sobre a situação política no país e que, por isso, está sob constante ataque do governo. O site está bloqueado na Belarus desde 24 de Janeiro de 2018. A própria Radsina vive no exílio desde 2011. Na Biblioteca Sem Censura, o leitor vai encontrar artigos publicados pelo portal sobre as medidas repressivas impostas a jornalistas desde o início dos protestos contra a reeleição manipulada do presidente Lukashenko, em agosto de 2020. A Belarus ocupa o 153º lugar no Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa da RSF, entre um total de 180 países.

No 107º lugar do Ranking da RSF, o Brasil é um dos países mais perigosos para profissionais da mídia na América Latina. Desde a eleição de Jair Bolsonaro em 2018, jornalistas atuam em um ambiente caracterizado pela agitação, pela desinformação e pela violência. Na Biblioteca Sem Censura, a RSF divulga reportagens do Jornal GGN e The Intercept Brasil.

Tal como muitos outros veículos brasileiros, o Jornal GGN é alvo de processos judiciais arbitrários, alimentados pela retórica antimídia de Bolsonaro e, em muitos casos, abertos por aliados do presidente. No ano passado, um juiz do estado do Rio de Janeiro ordenou ao fundador do GGN, Luis Nassif, e à repórter Patricia Faermann que retirassem do ar 11 reportagens publicadas por eles no jornal sobre irregularidades praticadas pelo Banco BTG Pactual, decisão que favoreceu inicialmente a instituição financeira. Uma segunda decisão judicial permitiu que os artigos voltassem a ser publicados, mas o banco ainda pode recorrer e conseguir derrubar as reportagens novamente.

Em novembro de 2020, também por ordem judicial, o Intercept Brasil teve de tirar do ar uma reportagem assinada pela jornalista Nayara Felizardo, que revelou a estreita relação entre um político e juízes de órgãos eleitorais do estado do Amazonas. No entanto, o Intercept voltou a publicar o artigo pouco tempo depois e continua a lutar no tribunal para manter o material online.

O Minecraft é um dos jogos de computador de maior sucesso no mundo. Todo mês, o número de jogadores supera 126 milhões de pessoas e a Biblioteca Sem Censura teve grande repercussão entre este público no ano passado. Existem hoje mais de 400 vídeos no Youtube nos quais jogadores apresentam o projeto. A ideia da Biblioteca Sem Censura partiu da agência de publicidade DDB Germany. 

Os fãs de Minecraft podem se conectar ao servidor da Biblioteca Sem Censura através do link visit.uncensoredlibrary.com. A Biblioteca Sem Censura também pode ser baixada através do site www.uncensoredlibrary.com e salva num servidor independente. Até agora, mais de 300.000 pessoas fizeram o download das salas, tornando a censura do material exposto na biblioteca virtualmente impossível. Com a hashtag #TruthFindsAWay, a Biblioteca Sem Censura é também visível nas redes sociais.

Evento de lançamento das novas salas


A abertura das salas do Brasil e da Belarus será acompanhada de um evento online de lançamento. Conversaremos com os jornalistas Patricia Faermann e Luis Nassif, do Jornal GGN, e Paula Bianchi, do Intercept Brasil, sobre suas experiências com a censura no Brasil. Também vamos conhecer juntos os novos espaços da biblioteca no Minecraft. O encontro acontece dia12 de Março, das 12h às 13h30 (horário de Brasília), no link: https://youtu.be/6l3KHRTYutU



 
Publié le
Mise à jour le 12.03.2021