Australia

Apesar das aparências, a liberdade de imprensa continua muito frágil na Austrália.  Na verdade, a lei constitucional do país não oferece nenhuma garantia em relação à liberdade de expressão e reconhece apenas uma “liberdade implícita de comunicação política”.  Nesse contexto, a dupla busca realizada pela polícia federal, em junho de 2019, na casa de um jornalista político de Camberra e na sede da Australian Broadcasting Corporation, a empresa de audiovisual pública, foi uma violação flagrante do sigilo das fontes e do jornalismo de interesse público. O pretexto invocado de "segurança nacional" é usado para intimidar os jornalistas investigativos, que também precisam lidar com a lei de difamação de 2018, que é uma das mais rígidas sobre o assunto nas democracias liberais. Além disso, há leis sobre terrorismo que tornam quase impossível promover uma cobertura livre e independente desse tema, bem como uma tendência do governo do primeiro-ministro Scott Morrison, cético em relação às mudanças climáticas, de impedir a cobertura de certas questões ambientais. Esses ataques das forças políticas ao jornalismo investigativo são ainda mais preocupantes, uma vez que a Austrália é caracterizada por um dos mercados de mídia mais concentrados do mundo. Dois gigantes, News Corp, de Rupert Murdoch, e Nine Entertainment, herdeiro de um consórcio criado pela família Packer, dividem quase toda a mídia privada, o que dificulta seriamente o pluralismo. Esse modelo oligárquico, no qual os grupos estão mais preocupados com lógicas comerciais e de redução de custos, representa um obstáculo adicional à promoção do jornalismo investigativo e de interesse público.