A deterioração da situação de segurança, aliada ao endurecimento da postura da junta que chegou ao poder em 2020, compromete a segurança dos jornalistas e o acesso à informação.
Panorama mediático
Após a queda do regime ditatorial de Moussa Traoré, em 1991, houve uma verdadeira explosão no número de meios de comunicação. O país possui agora mais de 120 jornais, pelo menos 500 estações de rádio e várias dezenas de canais de televisão, incluindo os regionais. Esses novos veículos de comunicação passaram a concorrer com a mídia estatal: a emissora de rádio e televisão ORTM e o jornal L’Essor.
Contexto político
Os jornalistas estão particularmente vulneráveis por causa da situação política e pelo endurecimento da junta no poder, que despertou a ira da oposição e dos principais parceiros do país ao se recusar a convocar eleições de acordo com o calendário inicialmente previsto. As pressões por um “tratamento patriótico” da informação estão se multiplicando, e a mídia pública é subserviente às autoridades que a supervisionam. O novo processo de credenciamento de jornalistas estrangeiros é particularmente intrusivo e prejudicial ao sigilo das fontes, e pode ser usado para restringir o acesso ao Mali ou monitorar a atividade dos repórteres. No início de 2022, um jornalista francês foi expulso menos de 24 horas após sua chegada ao país.
Marco legal
Nos últimos anos, iniciou-se um processo de revisão do arcabouço jurídico obsoleto em que os jornalistas atuam. Os profissionais do setor aguardam sobretudo novas leis que acabem com as penas de prisão por crimes de imprensa, institucionalizem a ajuda pública e melhorem o acesso à informação, bem como a identificação de jornalistas e meios profissionais.
Contexto económico
Os jornalistas e meios de comunicação do Mali vivem em grande precariedade, o que os torna vulneráveis ao tráfico de influência e à corrupção. Essas dificuldades foram agravadas pela diminuição das receitas publicitárias devido à pandemia e pela cessação total, nos últimos três anos, da ajuda governamental à imprensa.
Contexto sociocultural
Os conflitos entre comunidades, o extremismo e a presença de grupos armados impedem o livre exercício do jornalismo, particularmente no norte e no centro do Mali. A imprensa está sujeita a ataques com base em critérios de gênero, classe e etnia, e essas coerções socioculturais geram autocensura.
Seguridad
Trabalhar fora da capital, Bamako, é extremamente arriscado para os jornalistas, como evidencia o sequestro do repórter francês Olivier Dubois em Gao, no dia 8 de abril de 2021. No interior, a insegurança e a presença de grupos armados pressionam os jornalistas, ainda que as ameaças físicas sejam bastante raras. O desaparecimento, e provável morte nas prisões secretas da Segurança do Estado, do jornalista Birama Touré, em 2016, serve como um lembrete de que métodos violentos podem ser usados para silenciar jornalistas. A crescente influência do governo russo e a chegada de mercenários da empresa paramilitar Wagner ao Mali pressagiam um aumento da desinformação e dias sombrios para os jornalistas, como foi o caso após sua chegada à República Centro-Africana, em 2018.