O filho do Presidente abre processo na justiça contra o antigo diário de Carlos Cardoso, jornalista assassinado

O processo no qual o filho do Presidente, Nyimpine Chissano, ataca os filhos de Carlos Cardoso, juridicamente responsáveis pelo Metical, e Marcelo Mosse, antigo director do diário, dever-se-á abrir em 21 de Janeiro de 2002, em Maputo. O filho do Presidente acusa o jornal de ter publicado "falsas informações".

actualização - 21 de Janeiro de 2002 Em 18 de Janeiro de 2002, o processo que opõe o filho do Presidente aos herdeiros do jornalista Carlos Cardoso foi adiado por causa das férias judiciais em Moçambique. A nova data é 11 de Março. 17 de Janeiro de 2002 Em carta endereçada ao Primeiro-Ministro, Pascoal Mocumbi, Repórteres Sem Fronteiras (RSF) pede a todo o governo moçambicano que faça o possível a fim de que não tenha lugar o processo que opõe o filho do Presidente aos herdeiros do jornalista Carlos Cardoso, recentemente assassinado. RSF pediu ao Primeiro-Ministro que use de toda a sua influência junto à família presidencial a fim de que sejam retiradas da justiça as queixas que pesam contra os responsáveis pelo diário Metical. "É surpreendente a rapidez com que a justiça agiu neste caso. Os filhos de Carlos Cardoso e o antigo director de publicação estão a ser julgados antes dos assassinos do jornalista. Esta justiça com dois pesos e duas medidas é preocupante", enfatizou Robert Ménard, secretário geral de RSF. "O diário Metical está a ser perseguido por declarações que nem sequer foram publicadas. O filho do Presidente está a servir-se da sua influência para atacar um dos símbolos da liberdade de imprensa em Moçambique", acrescentou Ménard. Segundo as informações obtidas por RSF, o processo no qual o filho do Presidente, Nyimpine Chissano, ataca os filhos de Carlos Cardoso, juridicamente responsáveis pelo Metical, e Marcelo Mosse, antigo director do diário, dever-se-á abrir em 21 de Janeiro de 2002, em Maputo. O advogado de Nyimpine Chissano acusa o jornal de ter publicado dois artigos contendo "falsas informações que comprometem a imagem do seu cliente e da sua família". Afirma, nomeadamente, que o filho do chefe de Estado nunca "entrou numa esquadra de Maputo para insultar polícias" como apareceu no Metical. Segundo o advogado, o seu cliente também nunca transportou cocaína. "Não podemos rectificar o que nunca escrevemos", afirmara a redacção do jornal em Abril de 2001. De acordo com o jornal, nenhum artigo teve como objecto uma eventual implicação do filho do Presidente no tráfico de entorpecentes. Em contrapartida, Marcelo Mosse assinara artigo abordando essa questão no semanário português Expresso, de que também era correspondente em Moçambique. Um semanário sul-africano também falara do assunto. O filho do chefe de Estado exige 1,8 mil milhões de meticais (cerca de 89 000 euros) por perdas e danos. Desde o assassínio de Carlos Cardoso, os seus dois filhos, com seis e doze anos de idade, são os proprietários e, por conseguinte, os responsáveis legais pela publicação. Ao final do mês de Dezembro de 2001, o diário Metical foi oficialmente fechado, em virtude de graves dificuldades financeiras. Carlos Cardoso, director do Metical, foi assassinado na noite de 22 de Novembro de 2000, na avenida Mártires de Machava, em Maputo. Estava no seu automóvel com o motorista quando dois homens barraram o caminho e abriram fogo sobre eles. Carlos Cardoso, baleado várias vezes na cabeça, teve morte instantânea. O seu motorista ficou gravemente ferido. O jornalista acabara, então, de deixar a sede do jornal e estava a voltar para casa. Em Maio de 2001, seis pessoas foram formalmente acusadas. Ayob Abdul Satar e Vicente Ramaya, dois importantes homens de negócios, foram acusados de ser os "autores morais" e mandantes deste assassínio. Em 10 de Setembro, o juiz de instrução encarregado do processo afirmou dispor de elementos suficientes para que se um processo tivesse lugar. Os seis acusados continuarão detidos até ao julgamento, cuja data ainda não foi estabelecida.
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Updated on 20.01.2016