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África
O novo laboratório da desinformação e da propaganda
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A desinformação não para de aumentar na África subsaariana. Nos países envoltos em conflitos, há ameaças de segurança. Os governos usam a informação como uma arma a serviço do discurso de propaganda. No Mali (113o) e em Burkina Faso (58o), as autoridades militares, que não escondem sua proximidade com os mercenários da empresa militar privada russa Wagner, suspenderam sem prazo definido a difusão de dois veículos de imprensa internacionais e expulsaram vários jornalistas estrangeiros. Na República Centro-africana (98o), os conteúdos da mídia de propaganda russa RT e Sputnik são amplamente difundidos. A defesa e a promoção da narrativa russa contribuem para a explosão de desinformação e para o desenvolvimento de um ecossistema de propaganda no continente como um todo. Redes de meios de comunicação falsos continuam a contribuir para denegrir e desacreditar os jornalistas que não se dobram às injunções patrióticas impostas pelas novas juntas no poder. 

 

Um fenômeno semelhante também é percebido na Etiópia (130o). A guerra do Tigré levou a uma onda de prisões de jornalistas e favorece uma intensa propaganda das autoridades federais, como a Frente de Libertação do Tigré (TPLF). Na República Democrática do Congo (RDC) (124o), na região do Quivu do Norte, os jornalistas também ficam presos entre as injunções dos rebeldes do M23 e as das forças leais ao governo.

 

Um continente ainda de alto risco para os jornalistas

 

A propaganda e a desinformação se desenvolvem num terreno que permanece sendo um dos mais perigosos para o jornalismo. Embora o jornalista francês Olivier Dubois tenha sido libertado após 711 dias de cativeiro no Mali, ao todo, cinco jornalistas foram mortos no exercício de suas funções, entre o final de setembro de 2022 e janeiro de 2023, nos Camarões (138o), no Quênia (116o), na Somália (141o) e em Ruanda (131o). Ainda que investigações tenham sido abertas, elas nem sempre conseguem chegar aos mandantes, como ilustram os casos do jornalista camaronês Martinez Zogo e do ruandês John Williams Ntwali. 

 

Nesse ambiente onde reina a impunidade, as prisões arbitrárias com base em informações falsas, visando sobretudo os jornalistas investigativos, aumentaram. Antes modelo regional, o Senegal (104o) caiu 31 posições no Ranking, especialmente devido a processos contra os jornalistas Pape Alé Niang e Pape Ndiaye e à forte deterioração das condições de segurança dos profissionais da mídia. No Burundi (114o), a sentença particularmente severa condenando a 10 anos de prisão a jornalista Floriane Irangabiye, contribui para manter o país na retaguarda do Ranking. 

  

Embora a situação seja agora classificada como “difícil” em quase 40% dos países (comparado a 33% em 2022), algumas melhoras podem ainda assim ser vistas, como no  Níger (61o), onde a lei de crimes cibernéticos, usada para condenar jornalistas, foi emendada em 2022. Em Uganda (133o), o Tribunal Constitucional também anulou um dispositivo da lei sobre o uso abusivo de computadores, que criminalizava a publicação de “informações falsas”.

 

Os países

Sobrenome Ranking Nota global Dif. nota 2022 Dif. posição 2022
África do Sul
25
78,6
3
-10
Angola
125
48,3
-9
26
Benim
112
52,44
4
-9
Botsuana
65
64,61
6
-30
Burkina Faso
58
67,64
-6
17
Burundi
114
52,14
-3
7
Camarões
138
45,58
-4
20
Cabo Verde
33
75,72
0
-3
Comores
75
62,25
2
-8
Congo-Brazzaville
81
60,42
2
-12
Costa do Marfim
54
68,83
-6
17
Djibuti
162
35,87
0
-2
Eritreia
174
27,86
8
-5
eSwatini
111
52,66
6
-20
Etiópia
130
47,7
-3
16
Gabão
94
58,12
2
-11
Gâmbia
46
71,06
2
-4
Gana
62
65,93
-2
2
Guiné
85
59,51
0
1
Guiné Equatorial
120
50,35
7
-21
Guiné-Bissau
78
61,57
3
-14
Quênia
116
51,15
-13
47
Lesoto
67
64,29
5
-21
Libéria
66
64,34
2
-9
Madagascar
101
56,66
-2
3
Malaui
82
60,34
-1
2
Mali
113
52,29
-2
2
Maurício
63
65,56
-1
-1
Mauritânia
86
59,45
1
-11
Moçambique
102
56,13
7
-14
Namíbia
22
80,91
-1
4
Níger
61
66,84
-1
2
Nigéria
123
49,56
3
-6
Uganda
133
46,08
0
1
República Centro-Africana
98
57,56
1
-3
República Democrática do Congo
124
48,55
1
-1
Ruanda
131
46,58
1
-5
Senegal
104
55,82
-8
31
Seychelles
34
75,71
-8
21
Serra Leoa
74
62,55
-9
28
Somália
141
44,24
0
1
Sudão
148
40,83
0
-3
Sudão do Sul
118
50,62
3
-10
Tanzânia
143
44,02
-4
20
Chade
109
53,73
-3
5
Togo
70
63,06
6
-30
Zâmbia
87
59,41
4
-22
Zimbábue
126
48,17
4
-11