O conflito armado desencadeado pela Rússia em 24 de fevereiro de 2022 ameaça a sobrevivência da esfera midiática ucraniana. Nessa "guerra de informação", o país está na linha de frente para resistir à expansão do sistema propagandista do Kremlin.
Cenário midiático
O panorama midiático ucraniano é diversificado, mas permanece parcialmente sob a influência dos oligarcas que possuem a maioria dos canais de televisão nacionais. Desde a invasão russa, em fevereiro de 2022, o Estado tornou-se também um ator midiático central. O setor está sofrendo o impacto da agressão russa, que perturba o trabalho das redações e ameaça a sua sobrevivência econômica. Nos territórios sob controle russo - a Crimeia anexada em 2014, o Donbass e as áreas ocupadas pelo exército em 2022 -, a imprensa ucraniana é silenciada e substituída pela propaganda do Kremlin.
Contexto político
Mesmo antes do confronto militar, a "guerra de informação" com a Rússia mantinha um clima deletério na Ucrânia: proibição de mídia considerada pró-Kremlin por decreto presidencial, restrição de acesso às redes sociais russas, etc. Esta se intensificou desde a invasão liderada por Moscou. A mídia que transmitia a propaganda russa foi bloqueada, enquanto o exército russo alvejava deliberadamente jornalistas, meios de comunicação e infraestrutura de telecomunicações para impedir que a população ucraniana tivesse acesso a informações independentes.
Quadro jurídico
Desde a revolução Maidan em 2014, vários conjuntos de leis foram adotados sobre transparência da mídia, acesso à informação e proteção de jornalistas. A criação do grupo audiovisual público independente Suspilne, em 2017, foi uma das reformas mais emblemáticas. A adoção, no final de 2022, de uma nova lei de mídia, após anos de preparação, permitiu a harmonização com a legislação europeia. A aplicação da lei marcial por vezes resulta em restrições de reportagem para jornalistas, especialmente nas zonas do front.
Contexto económico
A agressão russa está enfraquecendo a economia e fazendo com que os meios de comunicação sofram uma perda significativa de assinantes e anunciantes. Combinada com outras consequências da guerra, como a destruição, as perturbações nas cadeias logísticas e o exílio forçado de funcionários, esta situação ameaça a sobrevivência de grande parte dos meios de comunicação ucranianos. Várias centenas deles já tiveram de fechar as portas, outras estão reduzindo sua atividade e colocando seus empregados em licença não remunerada. Os meios de comunicação locais e a mídia impressa continuam a ser os mais frágeis diante desses desafios.
Contexto sociocultural
A guerra alterou profundamente o trabalho dos jornalistas e os assuntos abordados. Com os ataques russos ocorrendo em todo o país, todos se tornaram efetivamente repórteres de guerra. A imprensa ucraniana, no entanto, continua a cobrir questões sociais e a desempenhar o seu papel essencial na denúncia da corrupção das elites do país, apesar de certas pressões. Contudo, a desigualdade de gênero na mídia continua sendo um problema, especialmente quando se trata de dar voz a especialistas em determinados temas - um problema que se intensificou após a invasão russa.
Segurança
Desde a invasão russa da Ucrânia no final de fevereiro de 2022, a segurança dos jornalistas está mais ameaçada do que nunca. Às vezes, eles são alvo de tiros deliberados, apesar de estarem identificados como “Imprensa”, e a lista de repórteres feridos ou mortos, bem como de redações parcialmente destruídas por ataques aéreos, continua a aumentar. Antes da guerra, os jornalistas podiam ser alvo de agressões físicas, principalmente durante manifestações. Finalmente, os ciberataques, as tentativas de quebra de sigilo das fontes e restrição de acesso à informação também são motivos de preocupação.