A insegurança ligada à ameaça terrorista, combinada com a instabilidade política, compromete o acesso dos jornalistas à informação. A libertação do jornalista francês Olivier Dubois em 2023, após 711 dias de cativeiro, faz com que não sejam esquecidos os riscos a que os profissionais da mídia estão expostos no Mali.
Cenário midiático
A queda do regime ditatorial de Moussa Traoré em 1991 levou a uma verdadeira explosão no número de meios de comunicação. O país possui agora cerca de 200 jornais, mais de 500 estações de rádio e várias dezenas de canais de televisão, incluindo regionais. Esses novos veículos de imprensa passaram a concorrer com a mídia pública: ORTM para o audiovisual e L’Essor para a imprensa escrita. Os programas e a cobertura midiática refletiam uma verdadeira diversidade de vozes no país, até à suspensão definitiva dos meios de comunicação franceses RFI e France 24, em abril de 2022. A rádio Mikado FM, lançada em junho de 2015 pelas Nações Unidas e apresentada por jornalistas locais, fechou definitivamente as portas no final de novembro de 2023.
Contexto político
Em princípio, os jornalistas e os meios de comunicação são livres para cobrir a administração e os meios de comunicação privados são relativamente independentes. No entanto, os jornalistas estão particularmente enfraquecidos pela situação política e pelo endurecimento da junta governante. As pressões por uma “cobertura patriótica” da informação estão aumentando. Em novembro de 2022, um jornalista foi alvo de graves ameaças por participar de uma reportagem sobre a presença da milícia russa Wagner no país. O processo de credenciamento de jornalistas estrangeiros é particularmente intrusivo e prejudicial ao sigilo das fontes. No início de 2022, um jornalista francês foi expulso menos de 24 horas após sua chegada ao país. A Alta Autoridade para a Comunicação (HAC), o órgão regulador da mídia e os meios de comunicação públicos são completamente subservientes às autoridades públicas, que podem exonerar os seus gestores.
Quadro jurídico
A atividade midiática no Mali é regida pela lei de imprensa, que determina as condições para o exercício da profissão, embora seja vaga e não defina os delitos de imprensa nem contenha disposições sobre meios de comunicação online. Nos últimos anos, iniciou-se um processo de revisão do arcabouço jurídico obsoleto em que os jornalistas atuam. Os profissionais do setor esperam sobretudo por reformas que ponham fim às penas privativas de liberdade para delitos de imprensa, institucionalizando a ajuda pública e melhorando o acesso à informação e a identificação de jornalistas e meios de comunicação profissionais. A mídia pública continua a ter acesso às informações do Estado mais facilmente do que a mídia privada.
Contexto económico
Os jornalistas e meios de comunicação do Mali vivem em grande precariedade, o que os torna vulneráveis a influências e à corrupção. Essas dificuldades foram agravadas pela diminuição das receitas publicitárias devido à crise sanitária e pela cessação total, nos últimos três anos, dos subsídios governamentais à imprensa.
Contexto sociocultural
Os conflitos intercomunitários, o extremismo e a presença de grupos armados impedem o livre exercício do jornalismo, particularmente no norte e no centro do Mali. Ataques à imprensa com base em gênero, classe ou etnia existem. Essas restrições socioculturais geram autocensura.
Segurança
Devido à presença de grupos armados e à insegurança, o trabalho fora da capital, Bamako, é agora extremamente arriscado para os jornalistas, como evidenciado pelo sequestro do repórter francês Olivier Dubois em Gao por quase dois anos, em abril de 2021, pelo Grupo de Apoio ao Islã e aos Muçulmanos (GSIM), afiliado à Al-Qaeda. O assassinato do jornalista Abdoul Aziz Djibrilla e o sequestro de dois dos seus colegas, em novembro de 2023, demonstram os riscos que os jornalistas enfrentam no norte do país. O desaparecimento há 7 anos e provável morte do jornalista Birama Touré, em consequência de tortura nas prisões secretas da Segurança do Estado, do jornalistalembra que existe o uso de mão forte para silenciar um jornalista. A crescente influência do governo russo e a chegada de mercenários da empresa paramilitar Wagner no Mali pressagiam um aumento da desinformação e dias sombrios para os jornalistas, como foi o caso após sua chegada na República Centro Africana, em 2018.