Carta da IA: RSF lança consulta dirigida aos meios de comunicação e à sociedade civil
No âmbito do seu trabalho para a elaboração de uma carta de princípios destinada a regulamentar o uso da inteligência artificial na mídia, a Repórteres sem Fronteiras (RSF) convida os meios de comunicação e as organizações da sociedade civil, especialmente as especializadas em jornalismo, a apresentarem as suas propostas. Contribuições que permitirão à comissão iniciada pela RSF identificar melhor as respostas adequadas à rápida disseminação dessas tecnologias entre os profissionais da informação
Atualização: o prazo para envio de contribuições foi prorrogado até 18 de outubro de 2023.
Após a criação de uma comissão internacional, a RSF abre um processo de consulto junto aos meios de comunicação e jornalistas do mundo inteiro. Para que suas reflexões sobre a ética midiática aplicada à IA sejam integradas ao trabalho da comissão, a RSF disponibiliza neste link um formulário para profissionais de mídia compartilharem suas ideias. As chamadas para contribuições estão abertas até 11 de outubro de 2023.
“A RSF está empenhada em integrar o mais amplamente possível os meios de comunicação e organizações do mundo todo na reflexão sobre este tema de vital importância para a integridade da informação. Convidamos a sociedade civil a acatar este apelo para partilhar a sua visão da ética jornalística aplicada à inteligência artificial.”
Christophe Deloire
Secretário-geral da RSF
Quatro grandes temas de trabalho da Comissão da Carta da IA são abordados neste formulário, concebido para que os meios de comunicação possam se expressar sobre os assuntos abordados pelos membros da comissão presidida pela jornalista e ganhadora do Prêmio Nobel da Paz Maria Ressa. Cada um desses temas corresponde a desafios específicos para a imprensa. A RSF questiona os profissionais de mídia sobre o comportamento que devem adotar para responder ao formulário de forma eficaz:
- Coleta de informações: o advento da inteligência artificial generativa, ou seja, o conjunto de ferramentas de IA que geram conteúdo com base na demanda, facilita muito a produção de conteúdo sintético – texto, imagem ou áudio. No entanto, os jornalistas devem ser capazes de continuar a identificar conteúdos autênticos com rapidez e segurança. Que ferramentas e métodos de trabalho devem os meios de comunicação e os jornalistas adotar para enfrentar esses novos desafios?
- Tratamento da informação: a utilização crescente de ferramentas de inteligência artificial nos meios de comunicação suscita preocupações quanto a falta de confiabilidade, viés e vazamento de dados. Algoritmos que analisam dados e geram conteúdo podem alterar os princípios da ética jornalística. Além disso, o viés inerente aos conjuntos de dados de treinamento dos sistemas de inteligência artificial é amplificado nos conteúdos produzidos. O uso da IA para otimizar a audiência também pode encorajar a divulgação de histórias que favorecem o sensacionalismo em detrimento de informações nuançadas. Finalmente, a falta de transparência dos sistemas de IA utilizados é um problema. Que características devem ter os sistemas de IA utilizados pelos jornalistas e que processos de trabalho devem ser implementados para garantir que a informação produzida atenda aos padrões de qualidade do jornalismo?
- Distribuição da informação: a onipresença de algoritmos de recomendação nas redes sociais orienta os indivíduos e influencia fortemente a visibilidade e a difusão de conteúdo online. Quanto aos motores de busca, eles direcionam massivamente o tráfego para determinados conteúdos em detrimento de outros. Além dos perigos representados pelas grandes plataformas, os meios de comunicação também usam tecnologias cada vez mais sofisticadas para distribuir informação, de acordo com os seus próprios interesses. Os motores de busca integrados aos websites e as notificações push nos aplicativos móveis dos meios de comunicação poderão em breve se beneficiar do poder da IA. Quais seriam os melhores usos desses recursos para servir ao direito à informação?
- Posicionamento dos meios de comunicação perante empresas do setor de IA: embora o setor da informação ainda seja perturbado pela intermediação de plataformas na divulgação de informação, este setor deve agora lidar com o surgimento de novos atores, produtores de IA, que podem facilmente competir e fornecer as ferramentas necessárias para a produção de informação de qualidade. Como devem as empresas de comunicação se comportar, não apenas em relação aos fornecedores de IA, mas em relação às grandes empresas de tecnologia em geral?
Para aprofundar essas questões, a RSF está disponibilizando ao público dois dos documentos de trabalho da comissão. O primeiro, intitulado Challenges raised by AI regarding the right to information apresenta uma lista abrangente e detalhada dos desafios. O segundo, nomeado AI and Media Ethics: Existing References Overview, apresenta um panorama das diversas iniciativas éticas existentes em relação a IA e jornalismo, a fim de destacar o que o projeto Carta da IA nos Meios de Comunicação, iniciado pela RSF, pretende trazer de novo e inédito a este cenário.